Em tempos de construções de narrativas que têm o único objetivo de justificar ideologias – políticas, filosóficas, científicas – e que não se preocupam decididamente com a verdade, é preciso retomar uma racionalidade simples, quase ingênua, que procure ver as coisas, antes de tudo, como elas são.

Uma mente honesta nunca se pergunta, antes de entender o que uma ideia é, se ela é boa ou ruim, benéfica ou prejudicial, útil ou dispensável. Primeiro, busca compreender a essência e só depois disso é que se questiona sobre quais são suas consequências.

Mas quando tudo torna-se disputa ideológica, todo pensamento é julgado pelos objetivos políticos que dele acreditam fluir. Além disso, a própria expressão não tem outro objetivo senão justificar as ideias.

Quando chegamos a esse ponto, quase não se encontra mais espaço para a observação pura, para o entendimento objetivo dos fenômenos e dos pensamentos. E nesse ambiente, perde-se a capacidade de compreensão da realidade, pois tornamo-nos viciados em versões e ficções, e só elas parece que importam.

Não entendemos mais nada e mesmo os intelectuais têm dificuldade de compreender o que acontece e o que as coisas são. Como disse George Orwell, o simples reconhecimento do óbvio está se tornando infelizmente o primeiro dever do homem inteligente.