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O amor de Dante

Disseram-me: o mais importante é o amor. E eu, alma que não quer ser insensível, aceitei a proposição. Até porque ela veio estampada nas capas dos Novos Testamentos distribuídos nas igrejas – o que lhe dava autoridade indiscutível.

O consenso é que o amor é bom em si mesmo. Por isso, suplanta tudo. O que importa, por conseguinte, é amar.

Se é assim, por que, então, ainda me incomodava a idéia que toda manifestação de amor é válida? Por que não me sentia à vontade com alguns amores excêntricos que se exibem por aí? Por que me parecia insuficiente pensar que só o que importa é amar?

Busquei um resposta e encontrei-a em Dante Alighieri que, setecentos anos atrás, já havia resolvido esse dilema:

“Podes considerar pelo que eu digo

O amor semente de toda a virtude

e de todo o ato que clame castigo”

O poeta nos mostra que o amor não é virtuoso em si mesmo. Ele é a semente, ou melhor, a força vital que impulsiona em direção ao que é amado.

Há, contudo, os bons amores, mas também os maus. Se amar a Deus eleva o homem, seu amor ao dinheiro rebaixa-o.

O valor do amor reside naquilo que se ama. Pois amar não é verbo intransitivo, nem pode ser considerada justa toda forma de amor.

A força e a fraqueza do amor

O amor é uma força e uma fraqueza.

O amor é uma força porque desperta, em nós, o melhor que há em nosso interior. Quando amamos, não há barreiras que possam impedir o nosso agir em favor do ser amado. Como está escrito: o amor faz-nos enfrentar todos os medos, superar todos os medos, vencer todos os medos.

Mas o amor é também uma fraqueza, porque torna-nos vulneráveis, pois há um outro envolvido, a quem queremos bem, queremos proteger, mas sobre quem não temos poder para arrancar sua dor.

O amor é uma fraqueza porque superar o sofrimento já não depende mais de nós, mas do amado que sofre e a quem podemos apenas observar e garantir que haverá alguém do seu lado.

A dor de quem amamos é como uma espada enfiada em nosso peito e que não temos como arrancar. Uma ferida que, apesar de ser no outro, nos consome e contra a qual não podemos fazer nada.

Por tudo isso, o amor precisa ser – e é -, antes de tudo, paciente. Só assim para suportar aquilo contra o que não se pode lutar, nem tratar, mas apenas esperar.

Equilíbrio pela intensificação dos extremos

A sabedoria milenar exaltou o equilíbrio como uma virtude. O meio-termo foi tido como o ideal ético. E o caminho para ele foi entendido, muitas vezes, como o simples abandono dos extremos. O equilíbrio deveria ser achado pela atenuação das paixões. Tanto que os estóicos chegaram a tentar suprimi-las por completo nessa busca, assim como alguns dos primeiros cristãos também.

Graficamente, considerando amor (A), ódio (O) e equilíbrio (E), seria assim:

O >>>>> E <<<<< A

Chesterton, porém, em seu livro Ortodoxia, interpretando o ensinamento cristão, nos oferece uma outra visão dessa realidade. Sem negar a virtude do equilíbrio, ele entende que este deve ser achado não pela atenuação dos extremos, mas, pelo contrário, por sua intensificação, conforme o seguinte gráfico:

O <<<<< E >>>>> A

É a tensão entre a força exercida pelos extremos que gera o equilíbrio.

O que o pensador inglês queria dizer era que o cristianismo ensina a amarmos intensamente e odiarmos intensamente e isso dará como resultado a vida perfeita, equilibrada e moral. O fato é que não há atenuação possível no amor pelo que deve ser amado, nem no ódio pelo que deve ser odiado. Tudo é intenso, total, verdadeiro.

Em tempos de relativismo, esta é uma mensagem desconcertante.