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O Consumidor é Soberano

Uma economia socialista – insistem aqueles que a defendem – existe para o bem dos desfavorecidos. Enquanto isso, o capitalismo seria um sistema elitista. Ludwig Von Mises discorda dessa afirmação e, em seu livro, “A mentalidade anticapitalista”, demonstra que a realidade é o exato contrário disso.

Para compreender o argumento de Mises, porém, será preciso entender como funcionava a economia pré-capitalista. Nela, as pessoas tinham acesso basicamente a bens de susbistência, já que não havia tecnologia para se produzir nada em grandes quantidades, exceto aquilo que a natureza permitia, ou seja, aquilo que pudesse ser plantado e colhido.

Nos sistemas econômicos anteriores ao capitalismo, os mais abastados até podiam encomendar bens fabricados artesanalmente, porém, as pessoas comuns tinham de se contentar com os produtos de subsistência e às sobras daquilo que os nobres e aristocratas consumiam.

Com a Revolução Industrial e suas novas tecnologias uma oportunidade se abre, ao permitir que quem pudesse e quisesse investir produzisse novos tipos de produtos e os oferecesse em grande escala. No entanto, surge a questão central do sistema capitalista: para quem produzir? Para quem vale a pena vender esses novos produtos? A resposta a essas perguntas é o que, segundo Mises, caracteriza o capitalismo mais atual.

Fabricar produtos apenas para as elites é restringir demais o mercado, afinal, a grande massa é composta por pessoas comuns. Sendo assim, se o capitalista quiser vender mais e, consequentemente, lucrar mais, precisará criar produtos para mais gente. O capitalismo então vai se caracterizar como o sistema econômico que premia aqueles que criam produtos para as grandes massas e que são consumidos por elas.

No sistema capitalista, portanto, são os consumidores que precisam ser bajulados, que precisam ser agradados e, em última instância, aqueles que exercem o controle social da produção, pois são eles que, através do consumo, aprovam os rejeitam os produtos que são colocados à sua disposição.

Para o economista austríaco, no capitalismo, o consumidor é o juiz, o soberano e o maior favorecido pelo sistema. O resultado é a melhora do padrão de vida das massas que acabam se beneficiando dos novos bens e produtos colocados à sua disposição.

Pensando bem, o capitalismo é um sistema curioso: toma o desejo por lucro e transforma-o em algo útil para a sociedade. Nele, enriquece quem disponibiliza para mais pessoas bens que melhorem suas vidas.

O erro de Zizek

Se um argumento tem como premissa uma interpretação equivocada dos fatos, ele está comprometido. Toda a sequência argumentativa pode estar perfeitamente lógica, mas se sua premissa é falsa ela está errada.

Isso foi o que aconteceu com o filósofo Slavoj Zizek, no chamado debate do século que ele teve com o psicólogo Jordan Peterson.

Em sua crítica ao capitalismo, Zizek partiu da premissa que a China é uma das mais pujantes economias capitalistas do mundo, controlada por um poder central forte: o Partido Comunista.

Assim, o filósofo esloveno concluiu que o capitalismo atingiu seu ápice exatamente por meio de um poder centralizador ditatorial – o que seria uma grande ironia.

Na sequência de seu discurso, toda a crítica que Zizek faz ao capitalismo parte dessa conclusão.

Ocorre que essa é uma falsa conclusão. Simplesmente porque parte da premissa equivocada de que a China é uma das maiores economias do mundo.

Na verdade, em valores brutos, isso pode até ser verdade. Em números absolutos a economia chinesa movimenta valores que ultrapassam a maioria dos países.

Porém, isso não quer dizer nada. A China é um dos países mais populosos da terra e está inserido no mercado capitalista internacional, fazendo uso de mão de obra barata, atraindo diversas empresas para seu território, além de lançar nos mercados os seus produtos de qualidade duvidosa.

Porém, considerando a renda per capita – que é o verdadeiro indicador da riqueza de um país – a China, fica entre o 70° e 80° lugares, segundo os melhores índices medidores desses dados.

Assim, o país asiático está longe de ser um dos mais ricos do mundo. É apenas um dos que movimentam mais dinheiro, o que é algo bem diferente. Sua população, porém, apesar de toda a riqueza que vê passando diante de seus olhos, continua pobre.

Sendo assim, toda a argumentação do filósofo Zizek está comprometida e suas conclusões prejudicadas.

É o que dá racionar com premissas mal pensadas e estabelecidas de antemão.

A dívida dos miseráveis

Os miseráveis de hoje não deveriam se revoltar contra o capitalismo. Isso porque, ainda que não pareça, se há alguma comoção em relação a sua pobreza e alguma ajuda vinda de voluntários sensibilizados, isso só existe por causa da prosperidade que abunda.

Explico: até alguns séculos atrás, o que chamamos de miséria – e que nada mais é do que o estado natural do ser humano – era algo universal. Todo mundo, com exceção dos poucos privilegiados aristocratas, nobres, clérigos e um ou outro sortudo, vivia no nível da subsistência.

O mundo era uma massa de miseráveis. O que se destacava era a riqueza, que se configurava uma verdadeira exceção. A pobreza passava desapercebida, pois era o que havia de mais comum.

Hoje, com a abundância capitalista e com a universalização das oportunidades, quando quase todo mundo vive com bem mais coisas do que é preciso para sobreviver, é a miséria que acaba se destacando, por contraste. Mesmo os mais pobres possuem bens dispensáveis. Assim, o real estado de pobreza que ainda existe acaba chamando muito mais atenção, levando mais pessoas a comprometerem-se em ajudar aqueles que pouco têm.

Para quem não compreende a lógica do sistema, pode parecer paradoxal, mas a verdade é que a abundância capitalista foi que acabou gerando a multidão de filantropos e voluntários dispostos a denunciar e minimizar a miséria que só a abundância que os circunda permite-lhes perceber.

Natureza opressora

Eu entendo as pessoas sentirem a pressão do mundo capitalista. As obrigações são muitas e das mais diversas. Às vezes dá mesmo vontade de jogar tudo para o alto.

Falam em lógica do mercado, mas ela, na verdade não existe. No mundo das compras, das trocas, do trabalho e dos negócios, nem sempre o melhor vence, nem sempre o mérito é reconhecido, nem sempre o esforço é devidamente recompensado e nem sempre os sacrifícios valem a pena.

Assim, diante da constatação de verdade tão cruel, sempre há aquelas pessoas que, sentindo-se oprimidas, culpam o sistema por seus fracassos, lançando sobre ele a responsabilidade por suas frustrações, e começam a propor meios de vida alternativos, maneiras de viver que se convencem ser um jeito melhor do que o da loucura do mercado.

Alguns, mais empolgados, chegam a propor uma mudança no próprio sistema – o que historicamente, além de mostrar-se inviável e pernicioso, demonstrou que, apesar de mudar as regras do jogo, não muda a essência do problema. Os países que experimentaram o comunismo, por exemplo constataram que o mundo deles pode ser tão ou mais opressor que o mundo capitalista, mas, certamente, bem menos confortável.

Outra saída proposta é o ideal de retorno do homem à natureza. Influenciados por uma visão romântica ou, simplesmente, induzidos por concepções ingênuas sobre a natureza, como a apresentada em diversos filmes e livros, acreditam que viver em harmonia com as plantas e os animais é o melhor que podem fazer para manter a própria paz.

O que essas pessoas não entendem, porém, é que a opressão e sentimento de injustiça, que elas percebem dentro de uma sociedade de mercado, não é uma característica dessa sociedade especificamente, mas da própria estrutura da realidade. A realidade é, em si mesma e em todas as suas manifestações, injusta e opressora.

Na natureza existe apenas uma lei: a do mais forte. Não existe harmonia, mas guerra. Na natureza, qualquer vacilo, qualquer descuido, pode ser fatal. Uma desatenção, e uma cobra lhe pica, um vacilo e um lobo lhe ataca, um erro e uma planta lhe envenena. Na natureza ninguém lhe defende, nem há instâncias de apelação. O que vale é a força pura e simples.

Existe algo mais opressor do que isso?

O que precisa ficar bem claro é que se há alguma justiça neste mundo; se há alguma harmonia; se existe alguma forma de equilíbrio, impedindo que os mais fortes simplesmente massacrem os mais fracos, isso dev-se à civilização. Foi ela quem criou os meios de dirimir a ação inclemente da natureza.

Não tem nada de natural na justiça, nem nada de natural na igualdade.

Se alguém quer viver em paz em meio à natureza, longe da civilização, o único jeito é equipar-se com o máximo de instrumentos retirados dessa mesma civilização: como uma boa lanterna, um bom rifle, uma boa comida e um bom abrigo. Sem isso, a chance de sobrevivência é mínima.

A lenda da meritocracia capitalista

Por entenderem o capitalismo como um sistema fechado, quase mecânico, pelo qual, com a aplicação das fórmulas certas e com bastante trabalho e inteligência, se alcançará inevitavelmente a prosperidade, muitas pessoas concluem que nele prevalece a meritocracia. 

Parece até que numa ordem capitalista o melhor trabalho é sempre reconhecido, o maior esforço melhor remunerado e as boas ideias ordinariamente acolhidas. Porém, todo mundo sabe que não é assim que as coisas funcionam.

A meritocracia pressupõe um sistema lógico de recompensas, dando a cada um o que lhe é devidamente merecido. Porém, para haver retribuições justamente oferecidas é necessário que haja um poder central incumbido dessa distribuição. No capitalismo, contudo, acontece exatamente o contrário: a distribuição das recompensas ocorre de forma descentralizada, ou seja, é cada consumidor o responsável por pagar (recompensar), dentro de seu universo limitadíssimo e pelas razões mais insondáveis, o fornecedor.

Por esse motivo, no sistema capitalista os resultados não obedecem nenhuma lógica pré-estabelecida. Fórmulas idênticas alcançam termos diferentes, modelos aplicados dão frutos díspares e os produtos de aplicações equivalentes invariavelmente difereciam-se de maneira absoluta.

A meritocracia pressupõe que os melhores estão sempre à frente, mas no capitalismo o que mais vemos é o medíocre suplantar o gênio e o néscio ter mais conquistas que o inteligente. Relacionar ambos, portanto, não tem sentido.

Na verdade, a sociedade que tentou ser meritocrática, com seu lema “tomar de cada qual segundo suas capacidades e dar a cada qual segundo suas necessidades” foi a comunista – e todos vimos no que deu a experiência.

Capitalismo e cristianismo

Cristãos, se forem coerentes com os escritos e tradição de sua religião, não têm como não experimentar um certo mal-estar ao ser favoráveis ao capitalismo e à busca pela prosperidade. Eu mesmo, no que parece uma bipolaridade intelectual, escrevo constantemente em defesa da riqueza e do capital, enquanto teço críticas à postura de quem dirige sua vida em favor das coisas materiais, perdendo contato com o que é superior. Tal atitude, eu tenho consciência disso, deve causar algum tipo de confusão em quem acompanha meus pensamentos.

O fato é que não há como negar que o cristianismo possui um histórico de, no mínimo, imposição de sérias restrições ao lucro, aos juros, ao acúmulo e à busca pela riqueza, que são o cerne do sistema capitalista. Textos bíblicos, como o que afirma que “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus” e outro que diz: “Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus”, além da conhecida tradição católica de condenação ao lucro e aos juros, deixam em uma situação constrangedora qualquer cristão que tente manter-se fiel à sua religião e permanecer favorável ao capitalismo.

Diante desse verdadeiro dilema, muitos não sabem se defendem abertamente o capitalismo, com o risco de não serem tidos como cristãos verdadeiros ou se mantêm a tradição cristã, sob pena de serem vistos como anticapitalistas ou mesmo esquerdistas.

No entanto, toda essa questão, vista desse maneira dualista, está muito mal colocada e necessita ser melhor compreendida, a fim de solucionar essa aparente contradição.

O fato é que não há nenhuma contradição entre o sistema capitalista, com todo seu impulso à riqueza e o cristianismo. Isso porque não há contradição entre a aplicação universal de um valor, um sistema ou uma ideia e, ao mesmo tempo, a condenação do abuso individual em relação a essa mesma ideia.

Por exemplo: todos somos favoráveis à liberdade, como um valor geral. Defendemos que as pessoas devem ser livres e ninguém deve estar sujeito a nada e a ninguém, senão por sua própria decisão. No entanto, ao mesmo tempo, condenamos aqueles que abusam de sua liberdade, que a usam para sua própria degradação e seu próprio mal.

Da mesma maneira, podemos defender o sistema capitalista, com seu fomento à busca pela riqueza, por meio do lucro, do acúmulo e dos juros e, ao mesmo tempo, condenar aqueles que usam desses meios de maneira desordenada, a ponto de perder-se em uma vida preocupada apenas com o dinheiro, com o luxo e com o que é relativo à matéria. Isso porque a defesa do capitalismo diz respeito a algo que é geral, como a liberdade, que mesmo mostrando-se benéfico como regra de aplicação universal, pode corromper o indivíduo que dele faz uso de maneira desmedida e desarrazoada.

Portanto, um cristão favorável ao capitalismo não precisa sentir-se constrangido de condenar o materialismo desmesurado que muitas pessoas praticam, buscando apenas os bens deste mundo e desprezando o que é espiritual. A pregação permanece a mesma: sempre que a atitude do ser humano privilegiar o material em detrimento do espiritual, o cristianismo a denunciará.

No entanto, essa pregação é unicamente moral e tem como alvo o indivíduo. Nunca será uma proposta de sociedade e jamais se tornará uma condenação ao sistema. É apenas um alerta para que a pessoa, em sua individualidade, oriente-se de uma maneira melhor diante de Deus.

Comprar é um ato humanitário

Comprar é um ato humanitário. Por isso, eu sou um entusiasta do consumo. E tudo isso, por um motivo muito simples: eu tenho noção de como as coisas funcionam.

Quando eu vejo um bem de consumo, eu não tenho aquela visão rasteira de quem apenas enxerga a matéria visível final. Um carro de luxo, por exemplo, se apresenta para mim mais do que em sua aparência fenomênica. Antes de tudo, eu olho para além do carro e vejo toda uma cadeia produtiva que está por detrás dele e que envolve uma logística complexa e absurda. Uma logística que absorve uma multidão de seres humanos que são remunerados exatamente por estarem ali naquele sistema de produção.

Você tem noção do que envolve a fabricação de um automóvel? Desde sua  idealização, seu projeto, a matéria-prima necessária para sua construção, a fabricação dos acessórios, que não são poucos, a montagem, o armazenamento, a distribuição, o transporte, a venda e até a manutenção, tudo isso coloca em funcionamento uma máquina que envolve milhares e milhares de pessoas.

Então, um carro de luxo, pelo menos para mim, é mais do que um objeto de desejo.  Aliás, eu sequer me interesso por ele enquanto objeto de uso.

Quando eu olho um Porsche, o que eu vejo é uma sequência de atos que movimenta milhares de pessoas. Uma Ferrari, para mim, representa um monte de gente podendo levar comida para a casa, podendo morar adequadamente, podendo fazer uma festa de aniversário para o filho.

É por isso que essa hipocrisia de quem critica o consumo não se sustenta.

Esses bens, seja de luxo ou não, são o que permitem a existência do mercado. O mercado é o que permite haver empregos. São os empregos que permitem que as pessoas vivam dignamente. E o que alimenta o mercado é o consumo.

Isso mesmo! Para manter isso tudo funcionando, as pessoas precisam comprar.

Então, caro leitor, quando você compra alguma coisa, o que você está fazendo é um ato de humanidade. Porque comprar é permitir que esse mercado continue existindo. E o mercado continuando a existir significa que as pessoas podem continuar tendo seus empregos. E elas tendo seus empregos, seus filhos vão estar bem alimentados e ninguém vai passar necessidade.

Por isso, quer ser bonzinho? Quer colaborar para diminuir a fome no mundo? Então, consuma mesmo, compre mesmo, use seu dinheiro para sustentar essa roda virtuosa. E deixe esse papo de comunista para lá, pois a única coisa que comunista faz bem é distribuir a miséria.

Quem pensa como comunista pode até ter boas intenções, mas não está ajudando em nada quem realmente precisa colocar comida na mesa.

Livre-mercado global

O livre-mercado pode ser abordado sob dois aspectos: nacional e global. No primeiro, tudo é muito claro. As empresas estão sob as mesmas regras, com a ressalva de alguns detalhes tributários regionais, e encontram, diante de si, os mesmos obstáculos e incentivos, a mesma liberdade e os mesmos entraves.

Quando, porém, fala-se em mercado global, as categorias certamente não são as mesmas. Considerando o princípio da soberania dos países, as empresas envolvidas nas negociações internacionais, apesar de obedecerem a algumas regras comuns, também estão sujeitas aos sistemas de seus respectivos países, que são obviamente diferentes, variando em seu nível de liberdade econômica.

Fica evidente, com isso, que não existe um livre-mercado, de fato, em nível mundial. O que há é um sistema de negócios que tenta colocar todos os participantes em um mesmo patamar, mas que, invariavelmente, encontra os mais diversos entraves e tratamentos diferenciados nas legislações nacionais.

Nesse contexto, é óbvio que uma empresa localizada em um país onde a liberdade econômica é menor, onde há mais tributos e as regulamentações são mais opressivos ficam em desvantagem, nesse jogo comercial global, em relação àquelas que se encontram em países onde o governo interfere menos em seus negócios

Portanto, chamar de livre-mercado esse jogo onde uns possuem mais vantagens competitivas do que outros, é possível apenas como analogia, não como verdade concreta.

Meritocracia ou liberdade

A ideia de que o capitalismo é baseado na meritocracia talvez seja mais uma entre aquelas criadas pelo seus adversários para desmoralizá-lo. A expressão meritocracia sugere um sistema pelo qual os esforços são recompensados, os talentos reconhecidos e o sucesso dos mais capacitados garantidos. Como isso é impossível, por razões óbvias, referir-se ao capitalismo como um sistema meritocrático serve apenas para fazê-lo parecer injusto e pernicioso.

Na verdade,  o capitalismo não é meritocrático de maneira alguma. Isso porque, para que fosse, precisaria ter total controle do processo de recompensas praticado dentro dele. Ocorre que o capitalismo é baseado, principalmente, na garantia da liberdade de transações entre as pessoas na sociedade. Em um sistema de livre comércio, o controle que se exerce sobre a economia é mínimo, impossibilitando qualquer garantia de justiça nos reconhecimentos dos méritos. Até porque, a partir do momento que os homens são livres para fazer seus negócios, nada garante que serão sempre justos e que sempre identificarão o que é melhor. Pelo contrário, homens são falíveis e estão sujeitos às mais diversas circunstâncias. Sendo assim, aqueles que alcançam maior sucesso nem sempre são aqueles que mais o mereciam.

O capitalismo, na verdade, tem como sua característica principal, não o reconhecimento do mérito, mas a garantia do livre-mercado. Isso significa que em um sistema capitalista as pessoas são livres para buscar sua felicidade da maneira como melhor lhes apraz, usando dos instrumentos que acreditam melhor lhes servir, sem uma interferência de qualquer poder externo. O que o capitalismo oferece, de fato, é a garantia da liberdade, não do reconhecimento.

Diferente do comunismo que, desde o princípio, suportado por suas ideias igualitárias, ofereceu“tomar de cada qual segundo suas capacidades e dar a cada qual segundo suas necessidades”. O que ele prometia, portanto, era que as pessoas ofereceriam conforme fossem capazes de contribuir e receberiam conforme precisassem, ou seja, o que cada cidadão de uma sociedade comunista deveria esperar é que seus esforços seriam tomados e recompensados de maneira justa, quer dizer, conforme seus méritos.

Se há, portanto, um sistema que baseou-se nos méritos para fundamentar sua sociedade foi o comunismo, não o capitalismo. Claro, que tudo isso em tese, porque, na prática, o que se viu nos países conduzidos por autoridades comunistas foi a tirania dos líderes e a submissão do povo.

Obviamente, que o comunismo não pôde cumprir o que prometeu porque é um sistema também dirigido por homens. E apesar de possuir um poder centralizado que, em tese, seria a única maneira de distribuir os méritos de forma controlada e justa, homens são falíveis e não podem garantir que farão justiça sempre. Além disso, já ficou demonstrado que toda tentativa de criar uma justiça econômica predeterminada está fadada ao insucesso. Basta observar como o delírio comunista provou que qualquer tentativa de planificar a economia, com a pretensão de justiça, foi o primeiro passo para tornar todos miseráveis, com exceção daqueles que estavam no controle do processo, que enriqueceram proporcionalmente ao empobrecimento de todo o restante da população.

Por tudo isso, a meritocracia não pode ser um fetiche liberal. Nada garante que haverá justiça na distribuição das recompensas. No entanto, uma coisa o livre-mercado pode garantir: que cada pessoa terá liberdade para, dentro de suas circunstâncias e capacidades, tentar encontrar o melhor caminho para sua prosperidade.