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Sociedade inerte, sociedade morta

As pessoas falam de economia como se ela fosse um mecanismo autônomo, frio, inumano, que se refere apenas a bens e propriedades. Então, quem se preocupa com o destino econômico do país por causa de uma paralisação que afeta quase todos os setores da cadeia produtiva e do setor de serviços é tido por elas como insensível, egoísta ou materialista. Confundem economia com dinheiro e não entendem como alguém pode se preocupar com trabalho, quando tem tanta gente morrendo.

O que os defensores da paralisação da sociedade não entendem é que economia se encontra muito além das questões materiais. Ela faz parte da própria expressão humana. Os homens vivem para produzir, para criar, para transformar. Fazer trocas, movimentar produtos, é algo inerente à vida em sociedade. Trabalhar, enfim, não é algo que se faz por opção, mas é parte fundamental da existência.

Tire do homem o trabalho e todo o resto perde o sentido para ele. Isso porque sem trabalho lhe falta não apenas o rendimento para sua subsistência, mas o motivo para levantar-se todo dia. Por isso, impedir alguém de trabalhar não é apenas uma agressão a um direito, mas uma ofensa pessoal e um ataque à dignidade do indivíduo.

A narrativa que diz que se deve primeiro salvar vidas, para depois pensar na economia, não tem sentido algum. Salvar a economia é também salvar vidas. Afinal, tanto quanto a saúde, o trabalho é indispensável para manter os homens vivos, em todos os sentidos.

Por essa razão, algumas nações não aceitaram paralisar suas economias, pois possuem uma sociedade a cuidar e elas entendem as consequência de se não fazer isso. Elas sabem que nenhuma desgraça, nenhum perigo, nenhuma ameaça justifica uma sociedade parar. Nem a morte justifica isso. Até porque uma sociedade imobilizada é uma sociedade que já morreu.

Entre a doença e a falência

Pouquíssimas empresas brasileiras possuem reservas financeiras, sequer capital de giro. Elas vivem do faturamento diário, muitas vezes dos ganhos dos dias específicos, dos dias com maior fluxo de pessoas. Sem isso, elas simplesmente não têm condições de pagar suas contas, menos ainda os salários de seus empregados.

Este é o problema que, na prática, não está sendo devidamente ponderado.

Na ânsia de conter a epidemia – que é séria – estão condenando o país à bancarrota.

O que talvez salve os brasileiros é o seu jeito todo peculiar de lidar com as crises, principalmente desobedecendo boa parte das determinações dadas pelas autoridades.

O velhinho e o cadeirante

Uma conhecida minha fez uma crítica ácida contra os serviços de entrega de comida, solicitados por aplicativos, como o Ifood, o UberEats e outros similares. Foi aquela lamentação chorosa, reclamando da ausência de jornada de trabalho e, especificamente, da suposta exploração dessas empresas em relação aos entregadores. Mais especificamente, narrou um velhinho entregando comida e um cadeirante fazendo isso também e como isso cortou o coração sensível dela. Assim, no seu texto, faz parecer que essas pessoas estão sendo exploradas, que são algo similar a escravos modernos.

Quando uma crítica é feita, espera-se que o crítico possua alguma solução em vista. O mínimo que ele deve apontar é qual seria a alternativa melhor ao problema indicado. No caso, se o velhinho e o cadeirante não estivessem fazendo esse serviço de entrega, estariam fazendo o quê? Qual a alternativa, dentro da realidade que vivemos, que deveria ser oferecida para eles?

Obviamente, a justiceira não expressa uma linha sobre isso. Sabe por quê? Porque todas as alternativas viáveis seriam piores para aqueles entregadores. Se ver um velhinho e um cadeirante entregando comida pode sensibilizar, vê-los sem trabalho, sofrendo sem dinheiro, sobrevivendo da caridade alheia é muito pior.

Como é típico desses defensores das causas sociais, eles são muito ligeiros para apontar as aparentes injustiças, mas são completamente incompetentes para oferecer qualquer solução. O que é até bom, porque quando se metem a solucionar os problemas do mundo, só causam desgraças.

Certamente, vão surgir pessoas dizendo que essas empresas poderiam reconhecer os direitos trabalhistas dessa gente, estabelecer regras rígidas de emprego e oferecer todo o tipo de benefícios para esses trabalhadores. O problema, que esse pessoal não vê, é que se essas empresas fossem obrigadas a seguir todo esse tipo de regulamentação, provavelmente, os primeiros a serem preteridos seriam exatamente as pessoas menos aptas, como o velhinho e o cadeirante.

A verdade é que é fácil ser crítico, difícil é dizer o melhor a se fazer. O problema é que geralmente os críticos não têm a mínima ideia sobre o que fazer.

O erro de Zizek

Se um argumento tem como premissa uma interpretação equivocada dos fatos, ele está comprometido. Toda a sequência argumentativa pode estar perfeitamente lógica, mas se sua premissa é falsa ela está errada.

Isso foi o que aconteceu com o filósofo Slavoj Zizek, no chamado debate do século que ele teve com o psicólogo Jordan Peterson.

Em sua crítica ao capitalismo, Zizek partiu da premissa que a China é uma das mais pujantes economias capitalistas do mundo, controlada por um poder central forte: o Partido Comunista.

Assim, o filósofo esloveno concluiu que o capitalismo atingiu seu ápice exatamente por meio de um poder centralizador ditatorial – o que seria uma grande ironia.

Na sequência de seu discurso, toda a crítica que Zizek faz ao capitalismo parte dessa conclusão.

Ocorre que essa é uma falsa conclusão. Simplesmente porque parte da premissa equivocada de que a China é uma das maiores economias do mundo.

Na verdade, em valores brutos, isso pode até ser verdade. Em números absolutos a economia chinesa movimenta valores que ultrapassam a maioria dos países.

Porém, isso não quer dizer nada. A China é um dos países mais populosos da terra e está inserido no mercado capitalista internacional, fazendo uso de mão de obra barata, atraindo diversas empresas para seu território, além de lançar nos mercados os seus produtos de qualidade duvidosa.

Porém, considerando a renda per capita – que é o verdadeiro indicador da riqueza de um país – a China, fica entre o 70° e 80° lugares, segundo os melhores índices medidores desses dados.

Assim, o país asiático está longe de ser um dos mais ricos do mundo. É apenas um dos que movimentam mais dinheiro, o que é algo bem diferente. Sua população, porém, apesar de toda a riqueza que vê passando diante de seus olhos, continua pobre.

Sendo assim, toda a argumentação do filósofo Zizek está comprometida e suas conclusões prejudicadas.

É o que dá racionar com premissas mal pensadas e estabelecidas de antemão.

Uma lição das agências de marketing para os analistas sociais

Propaganda de homemMeu entusiasmo com o livre mercado vem da observação de como ele, por uma necessidade prática de ter de respeitar a vontade das pessoas reais (não aquelas idealizadas pelos grupos de interesse, mas as de verdade, que compram e usam dos produtos e serviços disponíveis), acaba identificando, bem antes dos pretensos pensadores, sociólogos e críticos sociais, as verdadeiras demandas da população.

Uma das provas disso é a mais recente onda de produtos para o público masculino que se vê como representante do tipo “macho”. O que tem sido apresentado para esses homens não são mais apenas as cervejas e carrões, mas surgiu a oferta de diversos outros produtos que, antes, sequer se pensava em oferecer para eles. E os mais evidentes e surpreendentes são os de higiene e beleza. O que era antes um reduto de produtos para mulheres, dos quais os homens consumiam apenas por empréstimo, agora possuem aqueles específicos para eles, em uma clara percepção de uma necessidade represada das demandas do mercado. Continue Reading