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Chernobyl e a doença burocrática

Quem me conhece sabe a ojeriza que eu tenho da burocracia. Foi ela a principal responsável por eu aposentar o meu trabalho como advogado. Sempre me foi insuportável ter de aguentar as dificuldades e os obstáculos criados por regras inúteis e funcionários públicos trabalhando de má-vontade.

Foi por isso que a série Chernobyl mexeu tanto comigo. Naquela história estão apresentadas todas as doenças do pensamento estatista burocrático e que, no caso, levaram a uma catástrofe que quase afetou o mundo inteiro. Cada cena tocava fundo em minha alma anti-estatista e anti-burocrática.

A série mostra, em todas as expressões e nuances, como a mentalidade burocrática, a crença na tecnocracia, a incompetência técnica, o carreirismo político, os interesses partidários e a fé cega na ideologia tornaram a União Soviética um lugar retrógrado, impedindo seu progresso e, no fim, levando o resto do mundo à beira do Apocalipse.

Não que eu seja ingênuo e acredite que é possível simplesmente afastar o Estado de tudo. O mundo contemporâneo é muito complexo e alguma regulação e burocracia sempre serão necessárias. O problema, porém, é quando o Estado, em vez de atuar apenas onde a sociedade por si só não conseguiu se resolver, se intromete em todas as áreas. Pior ainda quando ele é o controlador de tudo e nada mais pode ser feito sem seu direcionamento e ordem, como acontece nos países comunistas.

O desastre de Chernobyl só atingiu aquela dimensão catastrófica porque havia um Estado soviético obscurantista, tacanha, paquidérmico e imenso por trás.

O sistema centralizado comunista é o prenúncio do desastre. Nada pode funcionar direito nele. Quando a máquina estatal é tão gigantesca, o que vai sempre prevalecer são as brigas por cargos, a busca por vantagens, o desprezo à eficiência e o apadrinhamento político. Isso tudo não apenas favorece, mas acaba por estimular a mentira, o engano e a falsidade. E foi a junção de tudo isso que acarretou o desastre de Chernobyl.

Crianças independentes e desprotegidas

Os esquerdistas não querem que os pais tenham autoridade sobre os filhos, principalmente em questões de moral e religião. E não apenas os mais radicais, mas té mesmo a insuspeita, para os incautos, Hillary Clinton, advoga, em seu livro It Takes a Village, a superioridade da influência do Estado (sob a alcunha de sociedade), no cuidado e formação dos jovens. Quer dizer, o pai e a mãe se matam para suprir todas as necessidades materiais e psicológicas do infante e na hora de lhes oferecer o mais importante, são tidos por más influências.

Por aqui, a pedagogia do oprimido paulofreireana vê na criança alguém com conhecimentos e capacidades inatas que praticamente dispensam a atuação do professor como alguém que lhes ensina algo. Ela só não dispensa o pedagogo porque daria muito na cara, mas, de fato, segundo seus critérios ele não tem muita função, senão o de, aí sim, preparar o cidadão – vulgo: militante.

Tudo, segundo essa visão liberal, leva a crer que os meninos e meninas são, nada menos, que pequenos adultos, suficientemente capazes de escolher, decidir, determinar e direcionar suas próprias vidas. Inclusive, as estimulam a dizer o que preferem, antes mesmo de entenderem o que querem.

O interessante é que, contrariamente a tudo isso, o mesmo Estado progressista toma a frente da defesa daqueles que ele mesmo trata como independentes e proíbe propagandas comerciais que são dirigidas às crianças. E qual o argumento para isso? Que elas ficam, dessa maneira, expostas à manipulação, exatamente por não terem idade suficiente para saber o que é benéfico ou maléfico para elas.

Olhando assim, parece até que os entes estatais sofrem de algum tipo de esquizofrenia burocrática, ora agindo de uma maneira, ora de outra completamente diferente. Porém, para quem conhece a natureza e as razões que motivam seus membros sabe bem que se há algo que eles não são é um grupo que não sabe o que quer.

Na verdade, se juntarmos todas essas atitudes flagrantemente antagônicas vamos encontrar um padrão muito claro, que apenas quem estuda um pouquinho a história das ideologias consegue perceber: não é que os esquerdistas queiram que as crianças se tornem livres, mas que percam seus protetores naturais. Quando eles fomentam toda essa independência, rebeldia e arrogância nos jovens, estão apenas insuflando um estado de ânimo que visa afastá-los de quem cuida deles por amor para colocá-los sob a tutela de quem usa-os para torná-los militantes para suas causas.

Por isso, defender as crianças contra esses ataques é, nada menos, que a obrigação de todo pai, mãe e adultos que entendem o perigo que é deixá-las soltas por aí, com a cabeça livre para ser tomada por malucos sem escrúpulos. Defender a autoridade dos pais, antes de tudo, não é impor um direito, mas preservar o que a ordem natural lhes legou: que é a responsabilidade de proteger seus filhos contra todo mal.

O Espírito Santo, a dependência estatal e o caos

A falta de policiais nas ruas do Espírito Santo grita sobre a nossa dependência em relação ao Estado. Todo o nosso sistema jurídico, social e econômico está montado para deixar-nos completamente à mercê das forças estatais. Tanto que basta termos algum tipo de crise entre os órgãos do governo para, imediatamente, sentirmos falta da atuação pública diretamente em nossa vida.

Claro que isso não significa que o Estado é realmente fundamental. Pelo contrário, ele é o problema. Na verdade, a maioria das dificuldades sociais que enfrentamos são causados pelo excesso de ingerência estatal que, com a alegação de resolver nossas demandas, acaba, de fato, criando muitos transtornos que soluções.

Para quem ainda não percebeu, o que acontece com a sociedade é o seguinte: o Estado toma conta de tudo, impede os particulares de atuarem livremente em diversas esferas, exige burocraticamente sua presença em várias áreas da vida comum e acaba com isso tornando-os completamente dependentes de sua presença e ação.

O problema é que apesar dessa pretensão totalitária, de assumir e invadir quase todos os aspectos da vida dos indivíduos, o Estado é um monstrengo gordo e lento que não tem a mínima capacidade de resolver as demandas das pessoas. Então, em sua voracidade intrometida, atrapalha muito mais que ajuda, impedindo possíveis soluções que os particulares pudessem apresentar para gerenciar as questões sociais.

Então, quando, como no Espírito Santo, ele entra em colapso, abandona aqueles que raptou e deixa-os à mercê dos problemas oriundos de sua atuação burra e ineficiente.

É nesse momento que transparece o quanto a população deixou-se dominar, sem perceber que o Estado era incapacitado de protegê-la. Agora que isso ficou claro, o que resta é, obviamente, o caos.

Quem é responsável pelos nossos filhos

Há um atributo do homeschooling que normalmente não é levado em conta. Quando as pessoas pensam em ensino domiciliar, elas costumam considerar, como razões para sua aplicação, questões morais, políticas, religiosas e de consciência. No entanto, ao menos para mim, o maior motivo para assumir a responsabilidade pelo ensino intelectual dos próprios filhos é a convicção de que são os pais os encarregados por isso, não o governo.

Em nossa cultura de achar que é sempre do Estado a incumbência pela educação das crianças, falar em homeschooling soa absurdo. Os pais que decidem por isso são mesmo tido por irresponsáveis, como se tirar as crianças da escola fosse um crime, um abandono intelectual.

O que não é muitas vezes considerado é que o ensino domiciliar significa os pais assumirem a obrigação de conduzir sua própria prole e, independente de suas convicções morais, afirmarem que, nas questões essenciais da vida dos filhos, são os pais que resolvem as coisas.

Nada mais justo e valoroso! Se os filhos são meus sou eu que devo cuidar de sua formação intelectual.

Isso não significa que esses pais precisam, pessoalmente, ser os mestres. Mas, certamente, são eles que irão escolher os professores, decidir o método que estes irão aplicar e as matérias que vão ensinar. São eles, os pais, que serão assumirão a tarefa de avaliar o desenvolvimento das crianças e decidir quando cada assunto é propício a ser ministrado.

Isso soa um escândalo para os ouvidos acostumados a escutar sobre a responsabilidade do Estado sobre as nossas vidas, do quanto ele é obrigado a oferecer boa educação e direcionar a mente dos nossos próprios filhos. No entanto, a ideia do homeschooling nada mais é do que mais uma face da filosofia do faça-você-mesmo ou do entendimento que você é quem responde por sua vida e de sua família.

Por isso, homeschooling não pode ser tratado como uma opção de radicais anti-sociais. Pelo contrário, trata-se de uma decisão bastante racional de quem sabe muito bem quais são suas obrigações dentro de uma sociedade e deseja viver sem sobrecarregá-la, nem depender dela.