Há uma ironia no modo de vida cristão. Ainda que uma das razões para alguém aceitar Cristo seja poder dar sentido para a existência, preenchendo o vácuo existencial evidente de quando não se tem a verdade de Deus, a conversão não necessariamente torna-a mais bem resolvida.
Enquanto se é cético e o mundo material é a única preocupação, há, de certa maneira, uma ausência de tensão. Vive-se a realidade presente com toda intensidade, sem culpas, sem acusações de consciência. Como não existe a expectativa de um porvir, a experiência atual se torna o maior valor que alguém pode ter. Neste caso, não cabe a reflexão sobre a medida das coisas, restando apenas o uso e gozo do que está à disposição.
Nesse sentido, pode-se dizer que o cético vive em paz. Não há nele o conflito entre os valores deste mundo e da vida futura. Como não crê em um porvir, não há tensão entre o quanto deve ceder aos apelos desta vida e o quanto deve reservar para uma glória futura.
Quanto ao cristão, no entanto, sequioso que é pelo Paraíso prometido, certo que as escolhas desta vida são decisivas para determinar se ele participará ou não dele, a paz que, talvez, pretendesse adquirir com sua conversão, se transforma, de fato, em uma constante tensão. A expectativa paulina da glória, que o fazia ansiar pelo mundo vindouro e tratar este como mera passagem, se apodera da alma cristã esperançosa, lançando sobre ela o constante olhar julgador que vigia o quanto anseia o porvir e o quanto se entrega às delícias presentes.
O cristão sabe que o afeiçoamento exagerado ao estado presente o torna insensível quanto ao valor da eternidade. O que está preparado para ele não é algo disponível aos sentidos, pois “nem olhos, viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais preparou em coração humano” essas coisas. Mas também sabe que abandonar tudo em favor do transcendente o faz perder a noção de suas responsabilidades mais imediatas, que têm sua importância e são decisivas, inclusive, em relação ao seu destino. Isso é um evidente fator gerador de tensão e até mesmo Paulo, o apóstolo que ansiava o céu mais que tudo e tinha as glórias terrenas como estrume, sentiu e expressou tal angústia.
Por isso, a escolha por Cristo é, ao mesmo tempo, a solução existencial, pois resolve o problema do destino eterno, e o desencadeador de uma luta íntima perpétua. Claro que há sempre a opção pela mentira, pelo auto-engano. Mas ser cristão, afinal, é mais que uma escolha pelo que faz bem, mas, sim, a busca incessante da verdade. E esta, nesta vida presente, não significa a ausência de conflitos. A paz que Cristo dá, como ele mesmo afirmou, “não é deste mundo“. A paz do cristão é a certeza da glória, ainda que havendo de suportar as dores do mundo atual.
As vezes entro em um dilema parecido, eu preciso estudar tanto e me dedicar a aprender tantas coisas da minha futura profissão e depois sei que terei que me esforçar e aperfeiçoar constastantemente, investindo muito tempo e energia nisso, se quiser construir uma grande carreira na minha área e tudo isso para que? se nao vai servir em nada na eternidade, pelo contrário eu ainda terei de prestar contas se desperdiçar meu talento.