Tem sido uma constante entre líderes cristãos cuspir no prato que comeram. Passam a vida toda fazendo suas “carreiras” no meio eclesiástico e em determinado momento de suas existências acreditam que, finalmente, encontraram o sentido de todas as coisas espirituais, negando o passado como ex-criminosos envergonhados de seus malfeitos.

Está na moda, entre eles, dizer que se deve superar a igreja, que eles chamam de institucionalizada. Mais ainda, insistem que se deve mesmo superar a religião, a fim de encontrar um movimento espiritual autêntico, sem, segundo eles, estar preso às amarras das tradições.

Esses são os novos gurus do cristianismo, que sem entender sequer o que significa desenvolvimento espiritual apregoam que todo mundo deve saltar para as etéreas realidades de uma vida superior, como um cabrito que pula as cercas de um curral.

No entanto, o que esse pessoal propõe, antes de tudo, é uma impossibilidade. Eles não entendem que a religião não é um fim em si mesmo, mas um instrumento para conduzir o homem a Deus. Extinguir a religião é o mesmo que implodir a ponte de acesso ao céu.

A religião existe porque o homem, por ele próprio, largado em seu pecado imanente, não tem a mínima condição de se elevar sozinho. Sem a direção dada pela religião, ele não tem norte, não tem referências, não tem símbolos que possam apontar, de uma maneira compreensível, as verdades mais profundas.

Os que militam contra a religião o fazem porque não compreendem sua verdadeira natureza. De fato, a têm como uma espécie de catálogo de posturas que precisa ser seguido para se obter o favor divino. Porém, a religião não era isso sequer no Antigo Testamento.

Mesmo no período dos sacrifícios e dos rituais, encontramos a afirmação de que Deus buscava espíritos contritos em meio à ritualística e almas que amassem em meio à religiosidade. Quando a religião se tornava em fim em si mesma é que Deus exortava o homem para que direcionasse seu coração. Mas não se pode esquecer que o próprio Deus ensinou a religião. Por isso, quando ele alertava as pessoas quanto à sua postura religiosa, obviamente, não poderia ser contra algo que ele mesmo ensinou, mas em relação a como elas se posicionavam diante da religião.

Fica claro, portanto, que a religião jamais foi um fim. Deus não ensinou-a para que os homens se encerrassem nela como se seus gestos, rituais e símbolos fossem suficientes para a salvação da sua alma.

A religião existe, simplesmente, para socorrer o homem perdido, que não possui capacidades intrínsecas, por causa de seu pecado, de, sem ela, compreender as verdades fundamentais e superiores.

Mas não sendo um fim, seu objetivo, portanto, é conduzir esse homem para um vida mais íntima com seu Criador, cada vez mais sem a necessidade dos intermediários simbólicos e ritualísticos.

No entanto, é impossível alcançar tal plenitude espiritual sem antes passar pela religião. E, ainda assim, pouquíssimas pessoas (se é que existe alguma) conseguem atingir tal patamar de santidade onde podem esquecer dos preceitos religiosos para viver uma vida plenamente espiritual com Cristo.

Por isso, líderes que sugerem para seus acólitos que abandonem a religião, que busquem uma vida espiritual pura, estão lançando essas almas para algo muito perigoso. Eles não compreendem que na vida espiritual, em geral, não há saltos. Ninguém pode sair da ignorância da fé para a santidade plena, sem antes passar pelos estágios de aprendizado que apenas a religião pode oferecer.

Querer que alguém compreenda as verdades eternas sem antes ser instruído pelos símbolos e por aquilo que é visível é o mesmo que esperar que um bebê entenda as investigações filosóficas mais profundas de um Duns Scotus, por exemplo.

Apenas quando as pessoas entendem a real natureza da religião, aí sim não cometem os dois erros extremos que mais vemos: o apego hermético aos preceitos, como se disso dependesse a salvação da própria alma ou a tentativa desesperada de negar a religião, como se ela fosse o empecilho para o verdadeiro encontro com Deus.

Quanto aos líderes, devem tomar muito cuidado com o que propõem. Os sangues que se perderem no caminho dessa tal espiritualidade desapegada podem ser cobrados de suas mãos.