Obviamente, não gosto do Carnaval. Mas minha objeção existe por algo muito específico: é que não aprecio fazer algo que não possua nenhum sentido para mim. Nem mesmo meus descansos são inúteis.

Na história, o Carnaval já teve algum sentido. Na Idade Média era como uma válvula de escape de uma sociedade estratificada, quando as classes trocavam de lugar, com os nobres vestindo-se de servos e os servos trajando vestes nobres. Teoricamente, o Carnaval também podia ser considerado o tempo de preparação para a Quaresma, quando as pessoas permitiam-se abusar um tanto mais de seu comportamento, a fim de suportar melhor os dias de jejum e privação característicos do período quaresmal.

O problema é que não vivemos mais em uma sociedade estratificada e os verdadeiros foliões estão bem longe de dar qualquer importância à liturgia católica.

O Carnaval tornou-se apenas uma brincadeira – às vezes inocente e outras bastante maliciosa. Mas não passam disso. Não há nenhum sentido além festa em si mesma. São quatro dias jogados fora, usados apenas para a diversão.

Claro que faço coisas sem sentido, mas elas geralmente representam um espaço ínfimo dentro do meu cotidiano. Eu também gosto de me divertir, mas insiro a diversão dentro do meu tempo. Claro que faço coisas que servem apenas para meu deleite, mas não passam de instantes fugazes e curtos enxertados entre o restante das minhas atividades. Por isso, pensar em dedicar quatro dias inteiros à mais pura diversão me soa um acinte.

Existir uma festa como o Carnaval é o de menos. Ela só podia ser um pouco mais curta. O que eu não consigo admitir é ter de parar um país inteiro, por praticamente uma semana, simplesmente para que algumas pessoas possam voltar a ser crianças e outras, rebaixando-se ainda mais, até suas condições de animais.