Ciência e ocultismo são níveis de um mesmo exercício. Por não entender isso é que as pessoas se assustam quando se deparam com a relação íntima que muitos cientistas têm com rituais de magia ou coisas parecidas. Quem assistiu os vídeos da inauguração de um túnel da Suiça ou o ritual macabro dentro do CERN fica assustado, acreditando que há uma incoerência entre a atitude científica e a ocultista.

No imaginário popular acredita-se que o cientista é o modelo de racionalidade, que sua ação é o exato oposto da superstição e do misticismo e que, apenas baseado na lógica, seu objetivo é entender os segredos da natureza. O ocultista, por outro lado, é tido por aquele que mexe com coisas misteriosas, que não estão acessíveis à maioria das pessoas e que pertencem ao mundo do desconhecido, até do sobrenatural. Assim, para as pessoas comuns, não há relação possível entre ambos, constituindo-se até antagônicos.

Ocorre que tais concepções sobre os dois tipos estão equivocadas e compreendê-las melhor é o caminho para entender porque há esse amálgama inesperado entre eles.

O cientista é, de fato, aquele que perscruta a natureza, até sua mais ínfimas manifestações, buscando entender o seu processo e, quem sabe, manipulá-la conforme seus objetivos. É errado dizer que o cientista observa a realidade. Ele observa e trabalha sobre os fenômenos dela, que são parciais e que não oferecem, em si mesmos, nenhuma explicação sobre seu sentido.

Já o ocultista, diferente do que muita gente pensa, não é um místico, nem se preocupa com assuntos transcendentais, mas, de fato, como o cientista, trabalha sobre os elementos da natureza, tentando encontrar, principalmente naqueles mais escondidos e sutis, forças que, por desconhecimento, não são utilizadas pelo restante da humanidade. A diferença é que ele, diferente do cientista, não precisa antes observar o fenômeno para concluir que ele exista. Basta saber, por meio do conhecimento herdado dos sábios antigos, que existem essas forças ocultas para que possa empreender seus esforços naquela direção.

No entanto, o objeto que ambos, cientista e ocultista, manipulam é o mesmo, a saber, os elementos da natureza, sejam estes mais visíveis e evidentes ou sutis e ocultos.

Sabendo disso, não há mais motivos para se espantar com a relação entre ciência e ocultismo, que é evidente desde, pelo menos, o século XVIII. A partir do momento que o cientista começa a investigar os processos da natureza, desvendando seus “segredos”, mergulhando, cada vez mais, até às manifestações mais escondidas, como é o caso da biologia celular ou da física quântica, até pelo impulso científico mesmo, é apenas um passo para que ele comece a se perguntar se não há elementos ainda mais ocultos, ainda mais sutis, do que aqueles que até ali observou.

Aliado a isso, quando a ciência toma a lugar que pertencia à fé, apresentando-se como a verdadeira esperança da humanidade e como aquela que irá desvendar os mistérios da existência, o que a impede de tentar ir além do que aquilo que pode ser imediatamente observado e começar a remexer o que pode haver de mais oculto, escondido por detrás dos fenômenos mensuráveis?

O ocultista é apena um cientista que ousou mais, que, de maneira heterodoxa, teve a coragem de se perguntar se não há manifestações na natureza que estão além daquelas que ele conseguiu medir e observar. O cientista, então, pode-se dizer, é um pré-ocultista, pois se ele remexe nos processos naturais em busca de respostas e de poder manipulatório, o ocultista faz a mesmíssima coisa, apenas com a diferença de que este não se limita a regras tão rígidas quanto a de uma publicação científica.

No entanto, as regras da comunidade acadêmica podem até limitar o alcance da ciência em seu aspecto publicitário, mas certamente não podem conter o espírito do cientista, que basta possuir um impulso um pouco mais forte e uma curiosidade um pouco mais aguçada para começar a se perguntar sobre o que há além de tudo aquilo que ele já conseguiu observar.