Existe verdade e mentira. Isto é fato. Não significa, porém, que verdade e mentira sejam realidades estáticas, simples, absolutas.

Quando Platão nos apresenta a alegoria da caverna, ele mostra como a verdade, simbolizada pela luz, não pode ser contemplada de uma vez, imediatamente. Ela não é achada após um salto. Não se sai da escuridão, de uma hora para outra, para a luz.

Aliás, esse é o motivo de tantas pessoas, nessa empreitada na busca do conhecimento, atrapalharem-se. Ao se depararem com um feixe de luz, empolgam-se, acreditando que já estão vendo a luz em sua inteireza, e confundem-se. É muito comum testemunhar recém-saídos da ignorância absoluta acreditarem que se tornaram, de repente, os possuidores do conhecimento, arrotando arrogância por causa disso.

Obviamente, estão equivocados. A verdade plena não pode ser abarcada de supetão, como por um salto, mas por um processo gradativo, muitas vezes lento e gradual, até o encontro final com sua luz reveladora.

O fato é que a luz de verdade não pode ser encarada sem, antes, uma adaptação. Não por acaso, Tomás de Aquino dizia que a verdade é antecedida por muitos véus. Para o homem encontrá-la por inteiro, portanto, precisa atravessar esses véus.

Isso não significa que os primeiros contatos com a luz da verdade sejam algum tipo de ilusão. Eles já contêm a verdade, mas uma verdade atenuada, aguardando que nos acostumemos com ela para, aos poucos, ir se revelando cada vez um pouco mais.

Portanto, verdade não combina com pressa e os apressados tropeçam no meio do caminho e, com a cara no chão, acabam perdendo contato com sua luz.

Aceite a revelação paulatina de verdade. Não tente desnudá-la violentamente — ela não releva esse tipo de investida. Pelo contrário, deixe que ela lhe seduza, que lhe conquiste, que, por vontade própria, se dispa diante de você, no tempo dela, do jeito dela.

A verdade é senhora de si e dona de tudo. Portanto, se você quer contemplá-la, peça para ela que, no momento que a ela aprouver, lhe responderá.