Toda vez que acontece algo de extraordinário, como a saída do governo de um ministro tido, até aqui, como incorruptível, como é o caso de Sérgio Moro, as pessoas correm para tentar encontrar alguma explicação para o que está acontecendo. O objetivo é perscrutar as motivações e os interesses por trás dos fatos.

Ao fazer isso, elas tendem a escolher uma perspectiva específica, uma explicação única, descartando todo o resto. Assim, não conseguem conceber a existência de possíveis interesses sobrepostos. Não conseguem imaginar que uma motivação menor pode conviver tranquilamente com outra superior.

Por exemplo, alguém pode fazer algo por interesses pessoais, ao mesmo tempo que responde aos interesses partidários, enquanto estes servem à ideologia e esta trabalhe em prol dos objetivos de forças supranacionais. Esteja o autor das ações consciente ou não, interesses sobrepostos sempre podem existir. E, na verdade, quase sempre existem.

Ocorre que, quem não tem o traquejo da investigação intelectual costuma trabalhar sempre por meio de excludentes. Ao analisar um fato qualquer e as possíveis motivações por detrás dele, tende a fixar-se em apenas uma dessas possíveis explicações, abandonando todas as outras.

O investigador amador simplifica tudo e é o primeiro a acusar os outros de teóricos da conspiração.

Porém, investigar algo dessa maneira é um erro, porque isso despreza a complexidade dos motivos e das relações humanas. Quem for honesto consigo mesmo vai perceber que suas próprias motivações são complexas e, muitas vezes, conflitantes. Quem já fez um bem motivado pela vaidade (ou um mal conduzido pelas melhores intenções) sabe do que eu estou falando.

Não é nada difícil um objetivo pessoal servir aos interesses de grupos superiores. Aliás, os interesses pessoais costumam ser as melhores iscas para os grupos superiores movimentarem as peças de seu xadrez político.

Por isso, nunca tente explicar algo de maneira simplista. Entenda que a investigação é um trabalho de olhar além das aparências e de não ser enganado por elas. E atente-se para o fato de que nem sempre essas aparências enganam por serem falsas. Às vezes, elas enganam exatamente por serem verdadeiras, e, por isso mesmo, parecerem ser as únicas explicações possíveis.