Categoria: Comportamento

Comportamento

Necessidade de Arrependimento

As pessoas têm muito medo de arrepender-se de suas escolhas, apesar de reiteradamente tomarem decisões equivocadas em suas vidas. Ainda assim, poucas reconhecem que se arrependem. Parece até que o arrependimento representa algum tipo de condenação.

Há uma cultura que rechaça o arrependimento e isso conduz a uma ilusão de que é possível viver sem ele. O problema é que uma vida sem arrependimentos não permite a autoavaliação, e quem não avalia a si mesmo não se corrige, ficando sujeito a cometer os mesmos erros de sempre.

No entanto, arrepender-se é algo absolutamente natural. A pessoa pode negar que o faz, mas não há ninguém que, se tivesse a chance, não mudaria alguma ação, fala ou omissão que cometeu.

O problema é que, em nossos tempos, o arrependimento é visto como sinal de fraqueza, insucesso ou mesmo resquício de uma superstição religiosa. Ele tornou-se algo vergonhoso. Por isso, todos tentam escondê-lo.

Por causa disso, o arrependimento tem sido sufocado, reprimido e racionalizado por esta geração, o que torna-a neurótica, obviamente. Melhor seria que ela não o evitasse, mas o aceitasse como uma reação espontânea de qualquer pessoa que tenha um mínimo de consciência.

Por isso, ninguém deveria fugir do arrependimento, mas aproveitá-lo para se tornar alguém melhor. Ninguém deveria negá-lo, nem fingir que aprova tudo o que fez na vida, mas usá-lo para promover as reformas pessoais necessárias.

Se o arrependimento, quando não usado para promover a melhora do indivíduo, pode ser considerado inútil, ao tornar-se instrumento para o crescimento pessoal se transforma em uma verdadeira via para sua salvação.

Exagero do Carnaval

Obviamente, não gosto do Carnaval. Mas minha objeção existe por algo muito específico: é que não aprecio fazer algo que não possua nenhum sentido para mim. Nem mesmo meus descansos são inúteis.

Na história, o Carnaval já teve algum sentido. Na Idade Média era como uma válvula de escape de uma sociedade estratificada, quando as classes trocavam de lugar, com os nobres vestindo-se de servos e os servos trajando vestes nobres. Teoricamente, o Carnaval também podia ser considerado o tempo de preparação para a Quaresma, quando as pessoas permitiam-se abusar um tanto mais de seu comportamento, a fim de suportar melhor os dias de jejum e privação característicos do período quaresmal.

O problema é que não vivemos mais em uma sociedade estratificada e os verdadeiros foliões estão bem longe de dar qualquer importância à liturgia católica.

O Carnaval tornou-se apenas uma brincadeira – às vezes inocente e outras bastante maliciosa. Mas não passam disso. Não há nenhum sentido além festa em si mesma. São quatro dias jogados fora, usados apenas para a diversão.

Claro que faço coisas sem sentido, mas elas geralmente representam um espaço ínfimo dentro do meu cotidiano. Eu também gosto de me divertir, mas insiro a diversão dentro do meu tempo. Claro que faço coisas que servem apenas para meu deleite, mas não passam de instantes fugazes e curtos enxertados entre o restante das minhas atividades. Por isso, pensar em dedicar quatro dias inteiros à mais pura diversão me soa um acinte.

Existir uma festa como o Carnaval é o de menos. Ela só podia ser um pouco mais curta. O que eu não consigo admitir é ter de parar um país inteiro, por praticamente uma semana, simplesmente para que algumas pessoas possam voltar a ser crianças e outras, rebaixando-se ainda mais, até suas condições de animais.

Beleza disponível

Há quem se orgulhe de não se render aos arroubos românticos, nem de se perder em subjetividades simbolistas. Diz ser um realista e querer mostrar a verdade como ela é. No entanto, parece que seus olhos vêem apenas o que a realidade tem de pior.

Cansado do culto à beleza e sentindo-se sufocado pelo que considera uma tirania do transcendente, rebela-se contra tudo isso, escolhendo os aspectos bizarros das manifestações visíveis. Assim, busca chocar, sentindo-se vingado em relação ao despotismo das convenções.

O problema é que, em sua luta desesperada por liberdade, acaba enredado na sujeira do mundo, da qual já não consegue sair. Isso impregna em sua alma e faz dele essencialmente tão sujo quanto o mundo que ele resolveu expor.

Decidir pelo grotesco não é uma necessidade. É verdade que a realidade tem muitos aspectos feios, mas eles não são os únicos. Tudo é uma questão de escolha de para onde se quer olhar. Quem decide ver maldade e sujeira em tudo certamente vai encontrá-las. Isso não significa que não exista beleza, ainda que ela seja ignorada.

Podemos ceder à tendência natural humana e deixar-se arrastar pelo grotesco. Isso não exige nenhum esforço. Mas quem deseja superar sua animalidade e colocar-se acima das vilezas deste mundo sempre tem a opção de buscar a beleza, que está continuamente disponível para ser contemplada.

A beleza apresenta-se continuamente e encontra-se espalhada por aí. Ela só exige um pouco de atenção para ser percebida. O que é belo está, de alguma maneira, impregnado em tudo, apenas esperando que o espírito de boa vontade o distingua.

Velhice desgovernada

Nada me causa mais temor do que uma velhice desgovernada. A possibilidade de alcançar a idade derradeira e encontrar-me nela perdido, coberto de pendências oriundas dos períodos anteriores da vida, causa-me preocupação. A imagem de um velho que, em vez de experimentar o que é próprio da sua idade, está ainda a resolver o que deveria ter sido solucionado antes, me é aterrorizante. Parece um exagero esse temor, mas vejo tantos idosos desnorteados que, só de pensar na possibilidade de alcançar a idade deles da mesma maneira, sinto calafrios.

Causou-me o maior impacto e fortaleceu essa inquietação a visita de um amigo, de idade já avançada, que, sentando à minha frente, com sua fala mansa e cordata, com sua calvície apenas aliviada pelo ralos cabelos brancos que ainda lhe restavam acima da orelhas, sendo o tipo de pessoa de quem nada se desconfia e que presume-se viva o gozo próprio de sua idade, tinha a paz, que sua postura e tom de voz emanavam, contraditada por seu olhar fugidio e sem brilho e pelas lamentações que denunciavam uma alma exausta. Estava ali um homem que perdeu a sua vida, apesar de ainda ter de carregá-la nas costas. Suas pendências financeiras, seus relacionamentos mal resolvidos, seus sonhos abandonados, sua falta de perspectiva e, principalmente, a completa incompreensão do sentido da sua existência eram um peso invisível sobre ele.

Como meu amigo, muitos idosos chegam à última idade como que levados por um furacão. A velhice, que lhes deveria ser o ápice de uma vida de desenvolvimento mental e espiritual, acaba se tornando apenas um fardo. Seguem com os mesmos problemas e as mesmas responsabilidades de antes, mas sem o vigor próprio da juventude. Assim, são tolhidos de experimentar o que lhes é próprio: a contemplação da existência, a presença nela não mais como atores, mas como observadores.

Quando eu for velho, espero poder viver como velho. Não quero ter de me preocupar mais com os problemas comezinhos do cotidiano. Não quero ter de murmurar pelos montes de questões mal resolvidas, nem ter de cuidar das mesmas coisas que me incomodaram durante toda a vida. Na minha senectude, quero poder, simplesmente, concentrar-me em fazer aquilo que realmente importa: observar a vida como quem a olha de fora, como um analista sábio e crítico que não precisa mais se enveredar pelos meandros das disputas humanas, apesar de ainda poder ajudar aqueles que nelas ainda se encontram.

Tiranos do bem

Todo mundo que quer consertar o mundo se transforma em um tirano. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, todo mundo que acredita que pode consertar o mundo não passa de uma criança inocente, desolada e perdida.

Na verdade, todos nós temos algo de inocente. Isso, em princípio, não é ruim. Para mantermos nossa sanidade, precisamos de alguma inocência, o que nos permite manter alguma fé e confiança no mundo.

No entanto, essa inocência começa a cobrar seu preço quando o inocente continua acreditando na ideia de mundo perfeito, mesmo quando a realidade joga na sua cara que o mundo não tem nada de perfeito – que ele não é um lugar naturalmente justo, nem equânime, nem fraterno e muito menos seguro.

Nesse momento, o inocente, afetado pela dissonância cognitiva provocada pelo confronto entre a realidade e sua crença, vai racionalizar os fatos. Não fará isso negando que o mundo onde vive é realmente injusto e inseguro, mas dizendo que isso ocorre por culpa exclusiva dos homens – principalmente dos outros homens.

Com essa racionalização, o inocente pode manter sua fé na perfeição natural do mundo, ao mesmo tempo que aponta os responsáveis por sua imperfeição atual.

A consequência óbvia dessa racionalização é a seguinte: se as pessoas são as culpadas pelo mundo não ser perfeito, então, para que se possa restabelecer a perfeição do mundo, é preciso mudar as pessoas. Mais ainda: se mudar as pessoas pode tornar o mundo perfeito, então, fazê-lo é um bem para a humanidade. E se mudar as pessoas é um bem para a humanidade, então está justificado inclusive o uso da força para isso.

É dessa lógica perversa que saem aquelas pessoas comuns que acreditam que, ao lançar-se sobre os outros, forçando-os a mudarem seus pensamentos e comportamento, estão cumprindo uma obrigação moral. Pessoas que começam a policiar as outras, a apontar o que consideram ser os erros delas e a julgá-las como responsáveis por tornar o mundo um lugar imperfeito. São essas pessoas que se tornam os pequenos tiranos – mas, é claro, tiranos do bem.

O mais interessante é que apesar de serem autoritárias, ao mesmo tempo são presas frágeis e indefesas diante do chamamento dos movimentos ideológicos. Isso porque a promessa que esses movimentos fazem da possibilidade de participação na construção de um paraíso na terra, soa, aos seus ouvidos, como um canto de sereia.

Não se deve esquecer que, por mais que essas pessoas se tornem tirânicas, a crença que elas possuem de que o mundo pode se tornar, por meio de uma evolução social, um lugar justo e harmonioso é uma mera racionalização. No caso delas, uma racionalização, típica de mentes imaturas, que se manifesta ante a sensação de insegurança e abandono que o confronto com uma realidade fria e inclemente lhes causa.

No fim das contas, esses pequenos tiranos do bem só querem se sentir amparados e seguros, acreditando que o mundo é como a casa de seus pais.

Grotesco inócuo

Os revoltados já não causam mais espanto. Podem sair às ruas com seus peitos ao vento, com seus cabelos coloridos, suas roupas rasgadas e vociferando palavras raivosas de ordem que, ainda assim, já não assustam mais ninguém.

Quando nos deparamos com esses manifestantes mijando nas calçadas, quebrando vidraças e simulando atos sexuais com objetos religiosos, por mais que ainda tenhamos desprezo por tais cenas, elas não conseguem mais nos chocar.

O que aconteceu é que, depois de tantos anos dessas pessoas despejando sobre nós suas esquisitices, suas provocações bizarras, seus apelos ao grotesco e seu uso do imundo para provocar nojo, acabamos todos dessensibilizados. Mesmo para o pai de família, para o trabalhador, para a dona-de-casa e até para o crente nada mais parece estranho, nada mais é absurdo.

Isso porque tudo aquilo que antes servia para causar escândalo simplesmente tornou-se lugar-comum. Esses rebeldes fizeram tanto para apresentar ao mundo uma versão grotesca da vida, que o grotesco tornou-se cotidiano. Dessa forma, o máximo que eles conseguem provocar hoje nas pessoas é desprezo – e aquela sensação de que tratam-se de meros coitados, clamando desesperadamente por atenção.

Além disso, eles não se deram conta de uma outra realidade: a de que a própria vida cotidiana passou a ser tão terrível que tentar torná-la ainda mais feia é simplesmente impossível. Pessoas que vivem na loucura do mundo moderno tendem a não se espantar com mais nada. O dia-a-dia anda tão estranho que, para as pessoas, um amontoado de gente esquisita fazendo obscenidades à vista de todos não passa de um fato inusitado, porém sem maior importância.

Na verdade, o mundo anda tão insano que já começa a haver um desejo de retorno às coisas mais simples, como o belo, o bem, e à verdade. Estamos tão saturados das vilezas que já nos chama mais atenção homens rezando, mães abandonando seus empregos para ficar com seus filhos e jovens pensando em se casar do que militantes fazendo arruaça no meio da rua.

O fato é que os rebeldes perderam sua narrativa e seu instrumento – que estavam totalmente baseados no escândalo. E agora que seus métodos tornaram-se inócuos, tudo o que lhes restou foi uma ideologia oca, escondida por detrás de uma aparência grotesca.

Eleição das impressões

Em geral, pessoas comuns não são profundas. Poucas são aquelas que, de fato, refletem para além da mera superficialidade. Isso fica muito claro quando observa-se os debates políticos que se proliferam nessas épocas de eleições. Nestes dias, por toda parte, lê-se e ouve-se conclusões que são grandes edifícios construídos sobre palitos de dentes.

Isso não seria nenhuma excrescência se fosse um fenômeno restrito às pessoas comuns. No entanto, quando nos deparamos com as opiniões de boa parte dos analistas políticos, cientistas, jornalistas, pensadores e, inclusive, dos próprios políticos, constatamos que a opinião superficial deixou de ser a voz das massas, mas passou a ser o coro em uníssono de praticamente todo mundo, inclusive daqueles que dizem fazer parte da elite pensante.

O fato é que estamos viciados em impressões e essa é a origem da superficialidade reinante. Esse vício é a fonte de nossa pobreza cognitiva e, por isso, combato-o na primeira aula de meus cursos sobre leitura e pensamento. Isso porque tenho plena consciência que, enquanto não se supera essa mania por julgar tudo superficialmente, nenhum pensamento que se construa tem algum valor.

O que se constata nessas eleições é exatamente isso: todos os ataques, todas as críticas, todas as opiniões são fruto não de qualquer proposta concreta ou reação a essas propostas, mas simplesmente das sensações provocadas pelo superficialismo reinante. O excesso de adjetivos é a prova disso – homofóbico, racista, sexista, fascista não são, nem de longe, descrições da realidade, mas apenas xingamentos reflexos de sentimentos despertados. E quando isso acontece, tudo é possível, como chamar de nazista um defensor de Israel ou de fascista quem quer permitir o armamento da população.

Vício por arrecadação

Todo político brasileiro tem um vício, compartilhado com os analistas e administradores públicos: o vício por arrecadação. Essa gente pensa que um bom plano é aquele que consegue tornar os cofres do governo cada vez mais gordos. No fim das contas, seu sucesso é medido pelo quanto ele consegue lançar-se sobre o bolso do contribuinte. Mesmo liberais, quando falam em cortar impostos, pensam em fazer isso de maneira eficiente, de forma que, ainda assim, o Estado arrecade mais.

O mais incrível é que qualquer proposta tributária que insinue a diminuição da arrecadação é logo tida por coisa de gente ingênua, quando não estúpida. Foi assim que se referiram a Paulo Guedes, quando ele propôs uma diminuição nas alíquotas do imposto de renda. Essas críticas mostram como a mente do administrador público brasileiro, e do analista político também, está cativa a um formato de governo burocrático e faminto.

Eu já vinha pensando em escrever sobre isso, porém, antes de colocar esses pensamentos no papel, veio o candidato à presidência, Jair Bolsonaro, e, em entrevista ao jornalista Augusto Nunes, falou algo que, para a mente refém da ideia do governo arrecadador, soa como uma heresia. Ele disse: “Quero uma coisa: que a União arrecade menos”.

Imagine quanto os tributaristas e gestores públicos devem ter ficado escandalizados com essa prova de ignorância do presidenciável. Como alguém que pretende ser presidente da República propõe algo que faça o governo ter menos dinheiro?

Porém, é exatamente nisto que reside a peculiaridade na proposta do presidenciável. Ela parte do princípio de que o indivíduo vem antes do Estado e da consciência de que a necessidade arrecadatória estatal não tem fim. Ela parte da compreensão de que quanto mais dinheiro entra para os cofres públicos, mais gastos surgem, mais dívidas públicas são feitas e mais necessidade por tributos é gerada.

O agente público, viciado em arrecadação, no entanto, não consegue ver lógica nesse pensamento, porque só sabe enxergar o lado do Estado. Pior, ele está tão refém do formato de governo que vem sendo praticado há décadas, que não consegue pensar formas de fazer com que esse mesmo Estado diminua drasticamente seus gastos, tendo cada vez menos necessidade de arrecadação.

Verdade seja dita: é preciso reverter esse ciclo infinito de aumento de impostos. Mas, para isso, é preciso, antes, mudar a mentalidade do próprio agente público, que vê na capacidade de aumentar a arrecadação um mérito. De repente, essa visão pioneira e corajosa apresentada pelo candidato Bolsonaro seja o início de uma nova mentalidade neste país, segundo a qual, mais importante do que encher os cofres públicos, seja enxugar as contas de maneira que a necessidade de arrecadação se torne cada vez menor.

Da psicopatia à normalidade

Em qualquer país minimamente civilizado, o atentado sofrido por Jair Bolsonaro seria motivo de consternação em todas suas esferas. Em qualquer sociedade minimamente desenvolvida, a facada recebida pelo candidato seria a causa de reflexão profunda em toda a nação.

No entanto, vivemos no Brasil e aqui, em boa parte de seu povo, o que prevalece é o cinismo, a indiferença, o ódio e o completo desprezo à vida humana.

Parece que as dezenas de milhares de vítimas da violência brasileira estão dessensibilizando as pessoas em relação às vidas que são desperdiçadas diariamente em nossas ruas, a ponto de quando um homem sexagenário sofre uma tentativa de assassinato tão cruel isso acaba não significando muita coisa. Como na Guerra, onde as mortes já não causam mais nenhum efeito, aqui também está se perdendo a noção de como a vida humana realmente importa.

Falo isso porque o que eu vi, nesses dias pós-atentado, foi estarrecedor: jovens duvidando da veracidade do ocorrido, comediantes tripudiando do agredido, jornalistas minimizando a seriedade do fato e militantes até lamentando a imperícia do assassino. No entanto, de tudo, o que mais me incomodou foi ver a imensidão de gente comum, que sabidamente não tem nenhum vínculo político nem ideológico, tratando o atentado como algo trivial, indiferente, quase sem importância. O candidato que está a frente de todas as pesquisas de intenções de voto para presidência da República foi quase morto na rua e as pessoas tratam isso como se fosse tudo como um lance de uma partida de futebol, algo sem maiores consequências.

Quando, em meu artigo “Uma cultura psicopática”, me questionei se não estaríamos vivendo em uma sociedade psicopática, que cultiva a falta de empatia e a falta de sensibilidade, tinha em vista situações como esta que estou presenciando: de pessoas agindo, diante de um fato de extrema seriedade, como algo absolutamente trivial, senão desprezível. Logo nós, brasileiros, que nos gabávamos de ser calorosos e sensíveis, e até um tanto passionais, agora estamos nos mostrando frios, quase indiferentes ao que está ocorrendo. E não estou dizendo nem de uma consternação pessoal em relação ao agredido, mas da percepção óbvia da seriedade do fato e do momento no qual estamos vivendo.

Lembram-se daquela cena mostrando árabes comemorando o atentado do World Trade Center? Algo muito semelhante está ocorrendo aqui e agora. São hordas de jovens, principalmente, tratando todo o terror do fato ocorrido como fraude, mentira ou algo sem nenhuma importância. Quando não – e não foram poucos -, muitos deles até comemorando o atentado, dizendo que o candidato mereceu a facada.

Não se engane, porém. Tudo isso – a violência e o desprezo à vida – foi inculcado por uma ideologia esquerdista doentia, que se impregnou na mentalidade brasileira, e que nunca prezou pela valorização do ser humano. As valas, os paredões, os campos de concentração, o impulso ao banditismo, a violência e os atentados estão longe de ser acidentes na história socialista. Portanto, neste país onde essa ideologia infiltrou-se amplamente, a forma como muitas pessoas reagiram ao atentado sofrido por Jair Bolsonaro não é uma anormalidade, mas a consequência óbvia de décadas de modelação do pensamento de um povo segundo uma ideologia assassina.

No entanto – bom não se enganar com isso! – a solução para essa situação não virá de um plano de governo específico ou da aplicação de uma ideologia contrária. Pelo contrário, o único movimento salvador, que pode trazer racionalidade à nossa sociedade, é aquele que promova um retorno à vida baseada nos valores universais e eternos que sempre sustentaram a existência das pessoas comuns. Na verdade, o Brasil só precisa voltar a ser um país normal, sadio. Não há nada mais que devemos aspirar.

Pode até ser que as grandes ideias e os grandes líderes sejam os responsáveis por movimentar a história da sociedade, mas são as tradições e os valores comuns e naturais que sempre a sustentaram. Portanto, se quisermos resgatar as pessoas a sua normalidade devemos torcer para que a ideologia morra, de uma vez por todas.

Escândalo alimentado

Estamos vivendo um momento quando tudo o que se diga pode ser interpretado como uma agressão a um grupo qualquer. Às vezes, até as manifestações mais inocentes são tachadas de discurso de ódio por alguém que, por algum motivo, tenha se sentido ofendido pelas palavras proferidas. Até alusões indiretas ou que apenas remetem de forma distante a um grupo étnico, uma religião, uma ideologia, um gênero, uma opção sexual ou qualquer outro grupo que possa ser representado na infinitude da diversidade humana, se tornam motivo de reclamação.

O que esses protetores da sensibilidade não percebem é que sempre que um grupo sente-se humilhado por uma declaração qualquer, imediatamente está declarando sua própria inferioridade. Isso porque só os fracos sentem-se afetados pelo que se diz deles. Apenas quem é subjugado, portanto inferior, acredita que deve levantar a voz em defesa de si mesmo. Os superiores não precisam disso. Quem sabe que não está abaixo de ninguém não tem a sensibilidade aguçada em relação ao que se fala sobre ele.

Mas os escandalizados se multiplicam. A cada dia surge uma categoria de vítimas da sociedade que enxergam nas palavras alheias algum tipo de violência que lhes afeta. Chegamos ao ponto, portanto, que manifestar-se tornou-se muito perigoso, pois quase sempre o que se diz conterá algum tipo de conteúdo escandaloso para alguém.

No entanto, não é por acaso que isso acontece. Quando uma pessoa fica escandalizada está demonstrando automaticamente seu senso de inferioridade. E quem se sente inferiorizado alimenta, ainda que inconscientemente, uma necessidade de vingança. Portanto, alguém que é estimulado a enxergar agressão em qualquer coisa que se diga em referência a ele está, na verdade, sendo levado ao ressentimento.

A lógica é bem óbvia: estimula-se o escândalo, que leva a um senso de inferioridade, que conduz ao ressentimento e que alimenta o desejo de vingança. Temos, então, delineada a forma como os poderosos mantém sob o cabresto os diversos grupos da sociedade.

Assim, esses grupos, ao mesmo tempo que pensam estar em uma luta por sua liberdade e se vêem como os paladinos da justiça social, estão simplesmente servindo de massa de manobra de quem usa seus ressentimentos – muitas vezes forjados – para controlá-los.

Portanto, se você é dessas pessoas que se sentem ameaçadas e humilhadas por qualquer manifestação que escutam por aí, em referência ao grupos do qual faz parte, repense seus conceitos e observe se não está sendo um mero joguete nas mãos de pessoas que sabem muito bem como lhe controlar.

Deixe de ser frágil! – é o que eu gostaria de lhe dizer.

Se alguém manifestar algo estúpido sobre você ou sobre o grupo ao qual você pertence, em vez de escandalizar-se, aprenda que muitas pessoas são mesmo estúpidas e que não merecem nada mais do que o seu desprezo. Por isso, não humilhe-se, escandalizando-se. Nestes casos, o escândalo é um elogio imerecido.