Para seguidores de seitas político-materialistas tudo é política. Não é por acaso que eles transformam mesmo a mensagem mais espiritual em guerra social. Seu principal objetivo é colaborar com a transformação do mundo, o que se torna como seu propósito.

Quando eles infiltram-se nas comunidades religiosas, constituem-se em panfletos vivos, ávidos por convencer os outros fiéis em militantes de sua causa. Em seus discursos, salvação se transforma em libertação política e sacrifício em capacidade de doar-se à luta social. Sua pregação faz o
fiel olhar antes para a terra, e o céu se distancia cada vez mais.

Quem não comunga das mesmas convicções políticas dessa gente acaba enredado num dilema. Como contrapor seus discursos e defender-se desse ataque verbal constante que sofrem dentro de um ambiente essencialmente espiritual?

Por muito tempo, acreditei que um pecado que os líderes cristãos cometiam era evitar tratar desses temas mundanos. Eu pensava que exatamente por imiscuir-se de transformar a Igreja numa fortaleza de batalha, estávamos perdendo a guerra. Ao ver a militância ganhando tanto espaço no seio de comunidade religiosa, critiquei os pregadores que pouco falavam de política no púlpito.

Hoje, já começo a questionar essa convicção. As palavras de Edmund Burke que, inconformado com o uso do púlpito para a propagação de ideias revolucionárias, achava que a Igreja deveria ser preservada dessa guerra, começam a ressoar mais forte na minha cabeça. Ele dizia que “nenhum som deveria ser ouvido na igreja, senão a adorável voz da caridade cristã”. Ele também afirmava que “a Igreja é um lugar que deveria dar um dia de trégua às dissensões e animosidades da humanidade”. Isso porque, para Burke, a Igreja, cumprindo seu papel histórico, deveria ser preservada como lugar de refúgio em meio à guerra, onde as pessoas pudessem se sentir protegidas, sabendo que, pelo menos ali, não seriam agredidas.

É certo que, quando a mensagem mais constante e importante pregada dentro de uma comunidade religiosa é voltada para as questões políticas, há um rebaixamento da missão eclesiástica. Pode-se dizer que o discurso político mancha o Evangelho. De alguma forma a Igreja é corrompida.

Obviamente, dentro das circunstâncias atuais, simplesmente negar-se a abordar questões políticas faz dos próprios fiéis vítimas indefesas daqueles que incessantemente propagam suas ideologias travestidas de caridade. Por outro lado, decidir confrontá-los direta e abertamente, traz o risco de transformar a Igreja num campo de guerras políticas intermináveis, onde a única vitória certa é do ódio característico que envolve essas disputas e a sede de sangue que lhes acompanha.

Cada vez mais me convenço que as palavras bíblicas, que dizem que nossas armas são espirituais, devem ser interpretadas literalmente. Estou mais certo que afastar o mal de ideologia política que tenta tomar a Igreja como mais uma de suas comunidades de base, depende de uma elevação da pregação, impulsionando seus ouvintes a buscarem aquilo que é superior e que transcende as agitações mundanas.

Quando o papa Bonifácio VIII reiterou o que a Bíblia ensina, que o espiritual discerne o carnal, mais do que uma afirmação de poder, havia ali o ensinamento de que, em uma eventual disputa entre eles, o espiritual sempre vence, porque suas armas são superiores. Sua declaração não queria dizer que ambos estão em uma disputa de forças, mas sim que o espiritual sempre se sobrepõe, simplesmente por estar acima.

A Igreja não precisa imiscuir-se numa guerra política, porque ela é, na verdade, a solução para a guerra política. Isso quer dizer que se seus representantes quiserem anular aqueles que tentam usá-la para seus fins ideológicos basta elevar a alma de seus fiéis para além da mundanidade. Homens verdadeiramente espirituais estão devidamente vacinados contra a doença da ideologia materialista.

Os marxistas acreditam que tudo é política e esforçam-se por rebaixar tudo a esse nível. O que eles mais odeiam são aqueles que desprezam esse politiquismo integral. Inclusive, costumam chamá-los de alienados. Portanto, sentem-se muito bem quando a Igreja rende-se à guerra política e coloca esse assunto como pauta principal de sua pregação. Quando, porém, os sacerdotes e profetas falam daquilo que lhes é próprio, e saber, e salvação, o pecado, a redenção e a espiritualidade, os usurpadores tremem.

Isso não significa que a política jamais deva entrar na pauta das pregações. Pelo contrário, é importante tocar nesse assunto, ocasionalmente, principalmente com o intuito de alertar para os perigos que a ideologia materialista oferece. Todavia, essa pregação deve vir sempre de cima para baixo, com o espiritual julgando o carnal, permitindo que a Igreja evite ser palanque para a hipocrisia característica do discurso político e seja praticamente o único lugar que ainda sirva de refúgio para almas se aliviarem da loucura deste século.