O polititicamente correto, sendo a convicção de que certas palavras, expressões e ideias devem ser suprimidas da fala, da escrita e do próprio pensamento, porque são passíveis de ferir suscetibilidades, significa, na prática, a imposição da censura universal.

No entanto, é uma censura que não depende de leis, nem de governos. Em muitos casos, evidencia-se como autocensura mesmo. A pessoa simplesmente começa a policiar-se a fim de não cometer o erro de falar algo que possa deixar os outros incomodados. É, portanto, o maior movimento de cerceamento do pensamento que já existiu.

Para adequar-se ao politicamente correto, as pessoas eliminam de suas manifestações, mas também de seu universo de consciência, toda uma gama de ideias que considerem agressivas. Essas ideias, para elas, são como pecados mortais, com os quais não se deve sequer flertar. Com isso, não apenas diminuem a possibilidade do que podem pensar, mas vivem temerosas de falarem ou pensarem algo que não deveriam.

Se fosse apenas uma forma de cercear a palavra manifestada, seria possível driblar o politicamente correto com criatividade, da mesma forma que sempre se fez sob governos que impediram a livre expressão. No entanto, aqueles que a ele se submetem vão além e mutilam o próprio imaginário, expulsando dele qualquer elemento que possa incomodar as sensibilidades alheias.

Ao sucumbir ante as exigências do politicamente correto, a inteligência para de se desenvolver. Isso é óbvio! A inteligência exige liberdade, se não de expressão, ao menos de pensamento. Se, porém, ela não pode explorar todas as possibilidades, porque do universo mental foram eliminados diversos elementos, fica impossibilitada de progredir. Por isso, a burrice é o efeito imediato do politicamente correto.

A inteligência, para aperfeiçoar-se, precisa sair do lugar-comum, arriscando-se em territórios inexplorados e perigosos. Desse jogo de tentativa e erro, de insinuações e provocações, de mergulhos constantes no desconhecido é que ela se alimenta. E, nesse movimento, a inteligência precisa ter a coragem de aproximar-se de pensamentos que podem ser socialmente reprováveis e que incomodem alguns tipos de pessoas. Quando, porém, ela restringe-se, proibindo a si mesma de ir além do que é socialmente permitido, perde sua elasticidade, atrofiando-se.

Por isso, o politicamente correto é mais do que um processo de supressão de certas expressões, mas um método que promove uma engenharia social, murchando o pensamento, desanimando a criatividade e sufocando qualquer tentativa de expansão da inteligência.