Depender de outras pessoas para se manter vivo espiritualmente, além de ser uma ilusão, é uma fuga

Houve um dia quando decidi que não mais dependeria de ninguém para sustentar minha vida espiritual.

 

Criado na igreja desde pequeno, aprendi que os líderes eram responsáveis por minha vida, que eles iriam ter o meu sangue cobrado deles. Cresci, entendi que eu também tinha responsabilidades diante da vida, porém, o princípio anterior se manteve. Na prática, quando algo não estava bem, a primeira desculpa que vinha à minha mente era dizer que aqueles que dirigiam a igreja a qual frequentava não estavam trabalhando suficientemente para me dar o apoio espiritual do qual necessitava.

Isso era algo que ocorria comigo, porém em menor grau do que em relação aos meus amigos e irmãos. Neles, essa racionalização tornava-se quase patológica. Toda a miséria espiritual que assolava a vida da pessoa imediatamente era colocada na conta do pastor, da igreja, do líder ou do grupo. Ninguém assumia que era fraco, preguiçoso ou mesmo pecador.

 

Percebi, nisso, uma enorme imaturidade e uma tremenda vigarice. Imaturidade porque essa postura de depender de outras pessoas para se manter vivo espiritualmente, além de ser uma ilusão, é uma fuga. Ninguém é responsável por ninguém. Todos irão dar conta de suas próprias almas diante de Deus. Ainda que líderes sejam cobrados pelo dom que Deus lhes deu, o liderado não pode se esquivar de suas próprias culpas e não poderá jamais argumentar que sua queda deveu-se à pobreza de sua liderança. E há vigarice porque, no fundo, o que muitas pessoas querem é não assumir responsabilidade alguma, deixar que aqueles que estão à frente dos trabalhos se lasquem e eles mesmos apenas aproveitem as conquistas.

 

Por isso, já há algum tempo, não acredito mais no modelo de gestão que as igrejas protestantes seguem. Quase todas elas estão baseadas no preenchimento de cargos e em atividades para manter o povo desperto. Em tudo isso, praticamente nada é dedicado ao fortalecimento do homem individual. Ninguém é preparado para encarar a solidão e a oposição. O que se promove nada mais é do que a fraqueza e dependência.

 

O pior é que as próprias pessoas preferem que seja assim. Em um mundo onde encontrar-se consigo mesmo é uma temeridade, no qual os elementos alienantes e ilusórios envolvem quase todas as esferas da vida, as palavras reflexão, meditação e contemplação parecem somente coisas de malucos orientalistas ou esotéricos de plantão.

 

Não dependa de ninguém. Não espere a próxima reunião para tentar encontrar algum caminho misterioso e sobrenatural que solucione sua vida. Mergulhe, sim, em sua própria alma e lá busque um verdadeiro encontro com o Deus do Universo.