Só de observar as reações de boa parte dos pedagogos brasileiros diante do projeto de lei, denominado Escola sem Partido, é possível afirmar que algo de acertado existe nessa proposta. Na verdade, o seu idealizador, o dr. Miguel Nagib, foi cirúrgico, acertando em cheio a artéria principal do projeto de dominação cultural conduzido pelos esquerdistas, já há algumas décadas.

A doutrinação de crianças, influenciada diretamente pelas propostas do patrono da pedagogia brasileira, Paulo Freire, que enxergava-as como pequenos militantes esperando ser lapidados para a luta política, que ele espertamente chamava de cidadania, é há muito tempo a arma principal para o alcance desse domínio cultural. Assim, o Escola sem Partido, ao propor a proibição do discuso militante por parte dos professores, retira esse instrumento de suas mãos, atrapalhando-os imensamente em seus intentos.

O argumento principal do idealizador do projeto é cristalino: as crianças são intelectualmente vulneráveis e não podem ficar à mercê de pregadores ideológicos. E, exatamente, é essa hipossuficiência que tem de ser protegida das artimanhas discursivas de professores comprometidos com partidos e formas de pensar enviesadas.

E que não se diga que impedir a pregação ideológica é impedir o desenvolvimento do pensamento crítico. Como se o pensamento crítico precisasse ser estimulado por discursos partidários! Aliás, como cansamos de ver nos livros didáticos que pululam por aí, o que muitos professores fazem hoje, ao apresentar uma versão já definida dos fatos, fazendo uma exaltação indiscutível do socialismo e dos revolucionários, além da condenação do conservadorismo e das formas tradicionais de pensamento, é exatamente impedir o pensamento crítico. Até por que, como podem desenvolvê-lo se as conclusões todas já estão dadas?

Por tudo isso, os pedagogos estão em polvorosa, alegando que o Escola sem Partido é um projeto autoritário, que impede a livre expressão dos docentes. Mas quem disse que professor tem liberdade de expressão em sala de aula? Há uma responsabilidade inescapável quando se dirige a meninos e meninas. Acreditar que um professor pode falar o que quiser na classe é uma grande besteira. Pelo contrário, conhecendo muitos desses pedagogos, sabendo que boa parte é formada por militantes, sindicalistas e comprometidos ideologicamente, não é difícil chegar à conclusão que as crianças precisam mesmo é de ser protegidas deles.

E dizem ainda que o Escola sem Partido uma proposta conservadora. Se é, isso depende do ponto de vista empregado. Se conservador significa não ser contaminado por alguma ideologia e deixar que as pessoas desenvolvam suas próprias formas de pensar o mundo, poderíamos dizer que sim. O problema é que os críticos do projeto afirmam que tudo neste mundo é ideologia. Isto porque eles já foram absorvidos por ela e não conseguem pensar nada fora dela. Mas, na verdade, o projeto apenas tenta evitar que sejam lançados sobre os alunos idéias prontas, determinadas por visões de mundo já definidas, que os impeçam de, aí sim, desenvolver um pensamento crítico. Afinal, qual é a dificuldade de entender que o que está sendo defendido é o verdadeiro pluralismo?

Sinceramente, nem acho o projeto perfeito. Por exemplo, acredito que as escolas particulares deveriam ficar completamente livres para ensinar da maneira como bem entendem. Ainda que a proposta tente minimizar essa ingerência, com a anuência dos pais ao conteúdo específico que elas possam ministrar, sinceramente, acho ainda melhor que essas instituições tenham seus próprios instrumentos de fiscalização.

De qualquer forma, o Escola sem Partido me parece essencial em um tempo quando as escolas foram aparelhadas por todo tipo de militantes, que, carregando o título de professores, têm usado a cátedra para formar a cabecinha de crianças inocentes em favor de suas próprias ideologias. Se o que se busca é evitar que as escolas se transformem em fábricas de militantes, podemos considerar que, com a implantação desse projeto, o primeiro passo está sendo dado nesse sentido.