Não há qualquer garantia de que o que o ouvinte está absorvendo seja exatamente igual àquilo que o orador está falando. Ainda que esse orador fizesse uma descrição detalhada do seu gato, por exemplo, e na audiência estivesse um exímio desenhista, nada poderia assegurar que esse desenhista conseguisse reproduzir, no papel, exatamente o felino descrito.

Um conteúdo nunca chega na mente do receptor da mesma maneira que estava na mente do emissor da mensagem. Não se faz telepatia. O que o receptor recebe é uma versão dos fatos, das imagens, das ideias e dos sentimentos que constam na cabeça do emissor.

Entre a captação, pelo orador, na realidade, daquilo que vai ser compartilhado e a absorção de sua descrição pelo ouvinte haverá sempre algum tipo de perda. A realidade invariavelmente chega ao interlocutor desgastada. Imagine um viajante que se encontre em algum lugar remoto do planeta e, sem qualquer instrumento com o qual possa registrar o que vê, se depare com um animal desconhecido. Primeiro, ele tenta registrar essa imagem em seu cérebro. Não será um registro perfeito, porque muitos detalhes acabarão ficando de fora. Depois, ele precisa manter essa imagem na memória, o que causa certas modificações nela, pois a memória humana caracteriza-se por ser fugidia, por ser falha. Então, haverá a necessidade de decodificar essa imagem em linguagem, o que certamente fará com que o viajante se depare com as limitações linguísticas que empobrecerão o conteúdo. A próxima etapa é contar para seu amigo sobre o animal exótico – o que exigirá dele não apenas a capacidade de se expressar corretamente, mas de transmitir o sentimentos e detalhes não lógicos envolvidos na sua experiência. E, por fim, há o problema de como o amigo vai compreender tudo, afinal, nem mesmo as descrições mais óbvias, como as relativas a cores e formas, são entendidas da mesma maneira por todas as pessoas, que possuem referências diversas sobre coisas semelhantes. O resultado, portanto, é que o ouvinte, quase sempre, acaba retendo algo bastante diferente da realidade original. O animal exótico impresso na mente do amigo do viajante provavelmente será bastante diferente do animal exótico que o viajante viu de fato.

O que o orador pode fazer, diante da perda que a realidade sofre no processo até à mente do ouvinte, é apenas diminuir os efeitos desse desgaste. Nunca haverá uma expressão exata. Será sempre uma versão. Ainda assim, é possível esforçar-se por fazer com que essa versão seja o mais próximo possível da realidade.

Para isso, o orador se servirá dos instrumentos da comunicação, que são aqueles que eu denominei de elementos decodificadores (as palavras, os sinais, os símbolos), que serão os responsáveis por tomar o conteúdo que se encontra em sua mente e entregá-los para seus ouvintes. E quanto melhor os usa, de maneira a aliviar esse desgaste que sofre a realidade, melhor será sua exposição.

(Aula do meu curso de Oratória)