Há algumas similaridades entre o fenômeno que levou ao poder a Frente Popular Francesa, na década de 30, e aquele que culminou na eleição de Jair Bolsonaro, no Brasil.

Como por aqui, a França estava corroída pela corrupção dos governantes, o que começou a gerar indignação popular. Então, mais por necessidade do que por afinidade, os movimentos de esquerda de todas as vertentes, antes inconciliáveis, fizeram uma aliança para chegar ao poder. Isso culminou na subida da Frente Popular ao governo, sob a liderança de León Blum.

No entanto, o governo francês de esquerda não teve dias fáceis. Frustrando as expectativas da militância, Blum promoveu somente algumas tímidas reformas legislativas, adequando as normas trabalhistas a uma visão mais socializante. No entanto, nas questões mais importantes, que envolviam a relação com a Guerra Civil Espanhola e com a Alemanha de Hitler, vacilou. O governo francês praticamente abandonou a Espanha, deixando-a à mercê dos franquistas, além de fraquejar diante das reivindicações nazistas.

Em síntese, o governo socialista francês, ao mesmo tempo que, em questões menores, fora fiel aos princípios que o elegeram, nas questões maiores, ignorou esses mesmos princípios.

O resultado foi a renúncia de Léon Blum, a divisão irreconciliável das esquerdas francesas e a retomada do poder pelas mesmas velhas raposas de antes.

Por aqui, do outro lado do espectro político, é possível ver semelhanças gerais com a experiência da Frente Popular Francesa. Vemos um governo atuante, seguindo os valores do eleitorado conservador que o elegeu, mas apenas em assuntos menores, ligados ao cotidiano. Em relação à luta maior – política, social e cultural – capaz de deixar um legado para as gerações seguintes, por enquanto, o governo tem apenas cedido.

Espera-se apenas que o fim não seja o mesmo dos franceses.