A sensação de desamparo diante da vida é um sentimento comum. Logo, todos percebemos que a maior parte daquilo que nos envolve não está sob o nosso controle. Também constatamos que nem tudo acontece de acordo com nossos investimentos, nem recebemos conforme nossos méritos.

Isso faz com que muitas situações do cotidiano pareçam ocorrer de maneira contrária aos nossos interesses, contra nossos desejos. E diante dessa constatação, muitas pessoas acabam por concluir que a vida é injusta, que ela não lhes dá as oportunidades devidas, não lhes proporciona o que lhes é merecido e não lhes oferece as chances de acordo com seus esforços.

Disso para sentirem-se vítimas é um passo. Quando a pessoa acredita que a vida não está lhe dando aquilo que ela merece ou que está favorecendo outros enquanto ela é preterida, agir como um injustiçado é uma consequência óbvia.

E esse vitimismo, obviamente, torna a pessoa mais fraca, incapaz de responder aos desafios que as circunstâncias impõem.

O fato é que a vida não é injusta. Na verdade, ela não é justa tampouco. A vida é simplesmente indiferente a você, a mim e a todo o resto. Ela não é um senhor sentado em um trono, distribuindo as recompensas pelos méritos e deméritos. Nem sequer se pode personificar a vida a ponto de querer impor sobre ela qualquer atitude de justiça ou injustiça, pois estas só podem ser praticadas por alguém – e a vida não é ninguém.

Se, portanto, ela não nos recompensa, nem nos pune; se ela segue seu curso independentemente de nós, então há apenas uma atitude inteligente: não esperarmos nada da vida. Se ela não se importa conosco, não há porque nos importarmos com ela.

Isso não é escapismo, nem negação. É apenas uma perspectiva mais sábia diante do descaso por parte da existência. Em vez de nos sentirmos vítimas de alguma injustiça cósmica; em vez de nos vermos como órfãos diante de um mundo mau, melhor é mandarmos qualquer expectativa em relação à vida às favas, assumirmos as rédeas da nossa existência e seguirmos adiante.

Isso não significa que teremos o controle de tudo, nem que conseguiremos traçar o nosso destino. Porém, saberemos que o que acontecer ou deixar de acontecer conosco se dará por decisão nossa, por circunstâncias que envolvem nossa caminhada, por sorte ou azar nosso, como consequência de acertos ou erros nossos.

Assim, afastamos toda vitimização de nossa perspectiva e assumimos que, se há um responsável por nossa vida, somos nós mesmos – para o bem e para o mal.