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Ideologia e Natureza

Qual o problema com as ideologias?

Ideologia é uma ideia sobre o que deve ser feito para tornar a sociedade melhor.

O problema é que, geralmente, essa ideia é o reflexo da perspectiva de uma pessoa, com suas idiossincrasias e parcialidades.

Por isso, as ideologias costumam ter mais relação com aquele que a professa do que com a própria sociedade a qual ela se refere.

Dificilmente, uma ideologia trata de uma adaptação às condições sociais reais e às limitações impostas por elas, mas de uma imposição, uma forma de subjugar a sociedade à determinada maneira de entender como a vida nela seria melhor.

Nesse sentido, ideologia é um tipo de tecnologia, ou seja, uma artificialidade inventada para ser aplicada sobre a sociedade, visando melhorá-la.

Por isso, uma ideologia, quase que por definição, como toda tecnologia, é uma luta contra a natureza. Especialmente, uma luta contra a natureza humana.

Não é por acaso que é na manifestação da natureza humana, em seus aspectos mais naturais, que a ideologia vai encontrar maior resistência.

Resistência da Natureza à Ideologia

Estamos submersos num mar ideológico. Desde o século XIX, parece que tudo o que envolve a sociedade e a política só pode ser considerado sob a perspectiva de doutrinas determinadas, de visões de mundo exatamente estabelecidas, fora das quais resta a indefinição e a desorientação. Aceitamos as ideologias como necessárias e hoje já não se consegue pensar o mundo sem elas. Parece que se as ideologias, por uma obra dos deuses, sumisse das cabeças dos homens, não saberíamos mais o que fazer e sucumbiríamos.

O resultado da aceitação incondicional da ideologia é que ela nos tem sufocado. Cada vez menos há espaço para a espontaneidade, para a liberdade, para a auto-determinação. Viver neste mundo ideologizado exige que nos acoplemos a princípios que não são de nenhuma maneira nossos, mas estão nos sendo impostos desde mentes que nada têm a ver conosco.

Asfixiados pela pressão das ideologias que não nos agradam, decidimos então que precisamos escapar delas, mas escolhemos combatê-las de frente. Como aceitamos que elas são necessárias, decidimos confrontá-las com nossas próprias ideologias. Por isso, a sociedade contemporânea, principalmente no século XX, transformou-se num palco de pelejas ideológicas. Cada nação, cada região, cada grupo pareciam possuir seu próprio corpo doutrinário e os conceitos muito bem definidos de como os povos deveriam ser conduzidos.

Independentemente da cor ideológica que, em cada momento histórico, saiu vencedora, quem sofreu todas as vezes foi a humanidade. A imposição de uma ideologia sempre torna-se um fardo para as pessoas, pois impõe sobre elas convicções que não são as de todas. Uma ideologia transformada em ação governamental transforma-se em opressão, invariavelmente.

Isso porque toda ideologia, por definição, é artificial. Sendo uma visão de mundo desenvolvida por uma mente finita, com perspectivas particulares e pontos de vista peculiares, possuindo uma ideia de como a sociedade deveria ser ou o que pode ser feito para melhorá-la, assume a condição de tecnologia, o que a caracteriza como uma artificialidade.

Do lado oposto da artificialidade ideológica encontra-se a natureza, com sua espontaneidade e força de resistência. Por isso, toda vez que a ideologia tenta se impor encontra dificuldade. É próprio da natureza se debater quando se sente sufocada. Faz parte de seu instinto de sobrevivência. Por isso, movimentos atuais, como o Brexit, a campanha de Trump e mesmo de Jair Bolsonaro, mais do que ideologias concorrentes àquelas que vinham sendo impostas, são as comunidades se estrebuchando, como que em um último movimento desesperado da natureza para libertar-se daquilo que lhe vinha estrangulando. E, com efeito, foi o único movimento de resistência que obteve algum sucesso nesse sentido.

De fato, o melhor adversário da ideologia é a natureza. Em especial, a natureza humana, com sua espontaneidade e instinto, é a única força capaz de se levantar contra as injunções das doutrinas políticas transformadas em plataformas governamentais. Não que seja um problema em si mesmo possuir ideias políticas e mesmo convicções de como a sociedade poderia ser dirigida. O problema é quando essas ideias são enfiadas a seco na vida de todo mundo. Neste caso, mesmo uma boa ideia pode se tornar uma violência.

Por isso, eu jamais escrevo em defesa de uma ideologia qualquer. Tudo o que eu digo, em termos políticos, é em defesa da natureza humana, das pessoas mesmo, em suas individualidades, costumes, hábitos e, consequentemente, diversidade. Não defendo uma ideia, mas um sujeito: o homem.

A psicologia da vontade e o cristianismo

A Psicologia contemporânea tem se esforçado por se afastar de qualquer relação com a religião. Porém, quanto mais eu estudo a natureza humana, mesmo por meio de autores e cientistas modernos, mais eu me convenço de que o conhecimento antigo intuiu muitas verdades e que estas são apenas confirmadas pelos novos pesquisadores.

A ideia cristã, por exemplo, de natureza humana decaída, que tende para o que é inferior e repele o superior, é constantemente confirmada pelos estudos e pesquisas empreendidos pelos psicólogos modernos. Estes, em suas experiências, revelam invariavelmente a dificuldade universal de fazer com que o corpo e a mente trabalhem em mútuo auxílio, para que a pessoa possa cumprir com aquilo a que se determinou.

A constatação é de que eles nunca fazem isso. Pelo contrário, tudo demonstra que o cérebro humano é um sabotador e o corpo um rebelde. Quem esperar deles um ajudador espontâneo se decepcionará.

O ensinamento dos antigos é, dessa forma, confirmado: a natureza humana precisa ser domada, da mesma maneira que se faz com os animais. Se alguém quiser que ela colabore com os seus projetos, em suas atividades, precisa aprender a colocá-la a seu serviço, sob seu comando.

O próprio cristianismo sempre ensinou sobre a mortificação da carne, que nada mais é do que a imposição do homem superior sobre o inferior. Suas Escrituras e seus pensadores sempre alertaram para os perigos de deixar-se levar pelos instintos, pelas demandas da natureza animalesca. Ensinou que era preciso não negá-la, mas domesticá-la.

Quando lemos os autores que se debruçam, hoje em dia, sobre o tema da Psicologia da Vontade, observamos que eles, mesmo sem saber, e muitas vezes contra a sua vontade, corroboram muito do que as velhas tradições já vêm ensinando há muito tempo, a saber, que se alguém quer realizar algo de relevante nesta vida precisa vencer as inclinações de sua natureza.