As Guerras Mundiais, a Guerra Fria e a ameaça de holocausto nuclear condenaram o discurso político incisivo. Tornou-se pecado falar com firmeza e tratar o adversário como inimigo. Começou-se a exigir que todo orador buscasse o equilíbrio e a razoabilidade.

Em tese, as intenções pareciam boas. Contra o que C. Wright Mills chama de realismo excêntrico, principalmente dos conservadores, passou-se a exigir que a linguagem e expressão fossem adornadas com vestes de tolerância. Tendo como base a ideia de que cada um tem uma maneira própria de enxergar a vida, a linguagem dos novos tempos deveria superar a dualidade entre o certo e o errado, mas considerar as ideias alheias como alternativas plausíveis.

A Nova Retórica, de Chaim Perelman, tornou-se um dos estandartes dessa nova expressão. Sua ciência é uma verdadeira filosofia da concórdia, uma tentativa por criar uma ponte entre os espectros ideológicos.

O problema é que a vida real é sempre mais complicada do que as melhores boas vontades. Enquanto os conservadores passaram a moderar seu discurso, a fim de adequar-se às exigências dos novos tempos, os progressistas passaram a usar essa mesma forma de expressão, aparentemente cordial e tolerante, para calar seus adversários políticos. No fim das contas, a linguagem polida dos progressistas tornou-se como arma mortal escondida dentro de um buquê de flores.

O que era para ser uma maneira de aproximar os extremos censurou um lado e fortaleceu o outro.

Depois de três décadas dessa nova filosofia do discurso, o resultado é que os conservadores não podem mais se expressar. Se falam do seu jeito, tentando mostrar as coisas como são, são tachados de radicais; se amenizam seu discurso e procuram mostrar-se tolerantes, acabam absorvidos por seus adversários políticos, que assumiram essa forma de expressão aparentemente cordial como sua marca registrada.