Não costumo dar muita atenção à opinião dos outros. Não porque não as respeito, nem porque acho que apenas as minhas estão corretas, mas porque sei que a maioria dessas opiniões está contaminada pelos próprios sentimentos do opinador.

Isto possui até um nome técnico: heurística de afeto.

A heurística de afeto é uma variante do chamado viés de disponibilidade. Este caracteriza-se pela tendência que temos de considerar mais verdadeiro aquilo que mais facilmente emerge para a nossa consciência. Isso explica porque, por exemplo, as pessoas ficam mais alarmadas com uma doença que tem o índice de letalidade baixa, do que com pegar estrada com seu carro, onde as chances de morrer são bem maiores. Como as imagens e notícias sobre a doença vêm mais facilmente à cabeça, pois estão sendo alimentadas diariamente pela mídia, elas acabam parecendo mais importantes, mais sérias e até mais mortais.

A heurística do afeto é uma variação disso. Neste caso, é a tendência que temos de valorar as coisas conforme o sentimento que elas despertam em nós. Assim, quando a pessoa pensa em algo, imediatamente este algo lhe desperta alguma sensação. Como e esta sensação que surgiu com mais facilidade (viés de disponibilidade), então é ela que passa a ser considerada a verdade. Com isso, a pessoa não faz uma análise objetiva da coisa, mas emite sua opinião baseada no sentimento que aquela coisa despertou nela.

Hoje em dia, a grande maioria das opiniões que vemos por aí são contaminadas pela heurística de afeto. E é por isso que é tão fácil enganar os trouxas. Você pega, por exemplo, uma ideologia genocida e reveste-a com as palavras mais bonitas, com as intenções mais belas, vinculando-a aos melhores sentimentos, omitindo o mal que fizeram. Pronto! As pessoas são adestradas a, toda vez que ouvir sobre ela, associá-la com sentimentos positivos. O resultado: mesmo pessoas que não concordam com o genocídio começam a defender a ideologia genocida.

Sendo assim, como eu posso confiar na opinião das pessoas? Não tem como! Qualquer coisa que elas me digam eu vou ter quase a certeza que não é baseada em fatos, razões, ideias, mas em sensações. E, sendo dessa maneira, serão opiniões que não valem nada.

Por isso, prefiro manter-me no meu ceticismo e na minha auto-vigilância. Dá mais trabalho, mas me afasta, em alguma medida, da idiotice reinante.