Na história ocidental recente, foram os governantes que abriram as portas de seus gabinetes para os representantes das grandes fortunas. Houve um verdadeiro conluio entre burocratas e empresas, mas quem colocava sobre à mesa o plano geral e o objetivo a ser perseguido pela nação era o líder político. Hitler, Mussolini e mesmo Woodrow Wilson davam as cartas no jogo econômico, ainda que, para o empresário, houvesse vantagens inegáveis nesse consórcio.

A alcunha capitalismo de Estado vem do reconhecimento dessa proeminência do governante e formata o imaginário geopolítico dos analistas, que insistem em vislumbrar, ainda hoje, a existência de uma parceria entre as grandes corporações e os governos.

No entanto, fica cada vez mais evidente que o que era conluio foi suplantado por uma sujeição estatal aos monopólios que, se não era imprevista, ao menos revelou-se supreendente.

Os governos transformaram-se em meros chanceladores das vontades das corporações globais, recebendo delas, por meio de entidades supra-estatais, que fingem representá-los, mas que servem apenas para submete-los, os pacotes de ações a serem colocados em prática, dentro dos respectivos territórios nacionais. Boa parte das leis propostas e sancionadas, apesar de, exteriormente, seguirem os devidos ritos de aprovação, não são nada além do que o resultado de um teatro burlesco, que finge ser honrado, mas que serve apenas para certificar como vontade popular o que não passam de artigos rabiscados em escritórios de agências globais.

Não é possível, portanto, esperar que os Estados, quando essas grandes corporações, fazendo pouco caso dos direitos individuais dos cidadãos, suprimem suas liberdades fundamentais, protejam-nos. Teoricamente, seriam eles os únicos capazes de frear a sanha arbitrária desses monopólios planetários, mas, com a subserviência – com algumas poucas exceções – dos governos atuais, a tendência é que as soberanias nacionais sejam, cada vez mais, diluídas no caldeirão globalista, de maneira a fazer com que todos os países percam suas idiossincrasias, identidade e, principalmente, vontade própria.

Aos comuns mortais resta simular normalidade, tomando parte nessa encenação democrática, lambendo as migalhas de benefícios que caem da mesa dos poderosos ou fugir para as montanhas, sejam estas reais ou figuradas.