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Mal-Estar pela Influência Marxista

Poucas pessoas têm noção do quanto o marxismo influencia o pensamento contemporâneo. Elas aprenderam a falar de doutrinação e de assédio intelectual, mas pouco se dão conta de que o marxismo moldou a mentalidade atual, tornando-se a cultura dominante dos nossos tempos.

Ter consciência disso foi a minha motivação para escrever o livro ‘As Origens do Mal – A Filosofia Marxista e como Ela Transformou o Mundo’. Saber que o marxismo formatava a forma de pensar das pessoas motivou-me a tentar abrir os olhos delas, mostrando, em detalhes, como suas mentes estão afetadas por essa ideologia.

Sem ler o livro, tem gente que vai achar que é um exagero dizer que o marxismo forjou a cultura destes dias. Ninguém nega sua influência, mas muitos tendem a minimizá-la, como se fosse algo pontual.

A dificuldade de enxergar o domínio marxista deve-se ao simples fato de ainda persistirem resquícios da cultura anterior, que é essencialmente cristã, nas instituições e tradições sobreviventes. Isso cria uma ilusão de que essas formas anteriores são predominantes.

Quando olhamos nossas instituições, de longe elas parecem as mesmas de sempre, porém, quando nos aproximamos delas na realidade, já percebemos que foram tomadas pelo pensamento marxista. Não há uma delas que tenha saído incólume dessa invasão.

O sucesso do aparelhamento marxista deve-se à natureza do marxismo, que longe de ser – como muitos pensam – uma mera proposta econômico-social, trata-se de uma filosofia e de uma visão de mundo. O marxismo tomou a cultura como as religiões fizeram no passado, transformando não apenas as instituições sociais, mas oferecendo novas categorias de pensamento e, por consequência, de percepção.

A experiência que os leitores do meu livro têm relatado, porém, é dúbia: se, por um lado, dizem que é esclarecedora, por outro, sentem um certo mal-estar, por perceber o quanto eles mesmos estão contaminados. Como um aluno relatou-me: é como se estivéssemos mergulhados num piche e, com a leitura, conseguíssemos levantar para respirar, mas ainda sujos.

A percepção da sujeira é tanto mais forte quanto a pessoa a reconhece e deseja limpar-se. Se meu livro causa essa sensação de sujeira, então, parece-me que ele está conseguindo atingir o seu objetivo.

Cultura de Massa

Os marqueteiros dizem que quem quer ser ouvido precisa falar o que o público quer ouvir; precisa, por isso, achar o seu nicho, onde suas ideias encontrarão guarida, onde elas serão bem recebidas. Quem busca reconhecimento, portanto, não deve pretender ser original, pois o aplauso nada mais é do que uma reação quase instintiva do aplaudidor ao reconhecer suas próprias ideias na fala do orador.

Opiniões não são aconselháveis, a não ser que elas repliquem a opinião pública. Afinal, as pessoas não suportam escutar aquilo com o que não concordam e levantam-se ardorosamente contra as ideias que estão fora de seu campo de aceitação.

Isso porque as pessoas estão satisfeitas com os resultados que elas, como massa, alcançaram. Afinal, aprenderam a manipular os elementos da civilização com destreza, mesmo não entendendo nada do processo histórico que a formou. São técnicos, são peritos, muitas vezes competentes, mas completamente ignorantes dos princípios que sustentam essa mesma civilização.

Elas também estão satisfeitas consigo mesmas. Olham para o mundo ao seu redor e sua prosperidade e tecnologia e acreditam, sinceramente, que isso tudo é mérito seu. Admiram o ambiente que as cerca, vêem nele o reflexo de sua própria capacidade e louvam a si mesmas, camuflando esse louvor com elogios ao seu próprio tempo, implicitamente, ao condenarem o passado como ultrapassado.

De fato, as pessoas admiram aquilo com que se identificam. Por isso, são incapazes de transcender-se; incapazes de gostar de algo que esteja fora do seu círculo de interesses.

Aqueles que ousam ultrapassar as fronteiras desse mundo auto-lisonjeiro são tidos por excêntricos. Quem não pensa sob as mesmas categorias da mente comum, manifestando os mesmos interesses e expressando pensamentos que se encaixam no imaginário vulgar é visto como um alienígena.

É assim que a massa se transforma em dirigente cultural: impondo, por meio da força do mercado, o que deve ou não ser publicado. Além disso, ela também determina a forma como o autor deve se comunicar com a audiência. Desse modo, “o escritor, ao começar a escrever sobre um tema que estudou profundamente, deve pensar que o leitor médio, que nunca estudou o assunto, se o vier a ler, não será com o fim de aprender alguma coisa com ele, mas sim, ao contrário, para condenar o autor, quando as ideias deste não coincidirem com as vulgaridades que tal leitor tem na cabeça” (ORTEGA).

A cultura, então, estagna-se, pois, sendo autofágica, não permite que ideias que ousam ultrapassar os limites habitualmente estabelecidos surjam. Assim, o papel principal do pensador, que é arriscar-se em campos perigosos, fica interditado.

Identificar o que as pessoas querem ouvir e moldar o discurso para obter sua aprovação tornou-se a única atividade distinguível entre a classe dita intelectual. O resultado desse movimento circular é amaldiçoar a inteligência àquilo que ocorre a tudo o que não evolui, a tudo o que se mantém estagnado: a corrosão.

Uma cultura esquizofrênica

Há características culturais que se assemelham muito a patologias. Costumamos ver estas como anormalidades que se manifestam nas pessoas individualmente. Porém, já escrevi sobre como uma cultura pode apresentar, por exemplo, características psicopáticas. Agora, quero mostrar que ela também pode ser esquizofrênica.

A característica marcante da esquizofrenia é a defesa obsessiva do self. O esquizofrênico vê tudo como uma ameaça ao seu ego e, para protegê-lo, chega a criar selfs-máscaras, que servem para esconder quem ele é verdadeiramente.

O esquizofrênico pode parecer, muitas vezes, uma pessoa bastante normal. Mas isso é só aparência. O que ele faz é criar personagens que interajam socialmente. Mas isso com um objetivo muito claro: esconder e proteger a verdadeira personalidade.

O problema da personalidade esquizóide é que ela é paranóica e acha que todo mundo está tentando desvendá-la. Seu maior medo é ser descoberta; é verem quem ela é verdadeiramente. A vida do esquizofrênico praticamente resume-se em agir em defesa de seu ego.

Posto isso, fica muito claro que quase toda a atuação das pessoas em redes sociais e demais círculos de convivência tem muito dessa atitude esquizofrênica. Percebe-se que boa parte de suas manifestações, ditos e interações são feitas não pelo seu self verdadeiro, por sua verdadeira personalidade. O que se apresenta são, de fato, as máscaras – ou como os sociólogos e filósofos preferem chamar: os papéis sociais.

Papel social uma pinóia!

O que aparece mesmo é um belo de um personagem, uma figura fingida que faz o maior esforço para, ao mostrar aquilo que seu autor quer mostrar, esconder a pessoa real que se esconde por trás.

E tudo isso sob os aplausos e aprovação do meio. Afinal, uma atitude esquizóide só pode ser considerada normal dentro de uma cultura esquizóide.

Politicismo integral e a derrocada da cultura

Não escondo minha preferência por Jair Bolsonaro. Tenho convicção que ele é a melhor opção para o país, neste momento. Fiz dezenas de textos elogiando-o por suas características e virtudes. Ainda assim, bastou eu fazer uma pequena crítica ao candidato, ressaltando algo que entendi equivocado da parte dele – apenas um alerta para alguém que precisa estar atento em seu caminho rumo à rampa do Planalto – e logo surgiram aqueles que interpretaram minha crítica pontual como uma ação deliberada contra o candidato. Apesar de tudo o que eu já havia escrito, minha solitária reprimenda serviu para que alguns acólitos me tachassem de atuar contra Bolsonaro. Um deles, inclusive, disse que, com isso, mostro que estou em cima do muro.

Mas não é a reprovação de alguns que me preocupa. O mais importante, para mim, é ressaltar que essa atitude nada mais é do que um sintoma de uma doença que já tomou boa parte dos brasileiros e da qual eles sequer se dão conta. Essa doença, segundo a expressão cunhada por Oretga y Gasset, chama-se politicismo integral. Como afirmou o escritor espanhol:

“O politicismo integral, a absorção de todas as coisas e de todo o homem pela política é a mesma coisa que o fenômeno da rebelião das massas. A massa rebelde perdeu toda a capacidade de religião e de conhecimento. Não pode conter mais que política, uma política exacerbada, frenética, fora de si…”

O homem tomado pelo politicismo integral não entende que nem tudo, mesmo quando se refere às ideias políticas, é política efetivamente. São os marxistas que vociferam “Tudo é política! Tudo é política!”. Das ações partidárias à poesia escrita para a namorada, tudo, para eles, é ação política. Eles ignoram que há vastas áreas da experiência humana que estão além da política e até a desprezam.

Eu mesmo, tendo recebido vários convites para ingressar em movimentos políticos, neguei-os todos, peremptoriamente. Fiz isso, não porque eu entenda ser errado participar – muito pelo contrário! -, mas porque entendo que esta não é minha vocação. Acho muito válida a atitude de quem se embrenha nos meandros da política, mas, decididamente, não é o que me atrai – nem um pouco! Por outro lado, a política, como ciência e como fato social, me interessa demais, e por isso tento atuar junto a ela como um analista, como um crítico, como alguém que observa e comenta os passos que os verdadeiros atores políticos dão.

Porém, para algumas pessoas, não existe isso de não atuar politicamente. Para elas, tudo é política. No entendimento delas, qualquer fungada que você dê, qualquer peido que você solte, tem uma conotação política e uma intenção política. Elas não aceitam que alguém possa fazer algo sem interesse político, apenas com um objetivo científico ou de análise social.

O problema é que foi exatamente esse pensamento, que vê política em tudo, que provocou a derrocada da cultura, de uma maneira geral. É por causa dele que as escolas e universidades estão tomadas por ativistas políticos e os próprios professores já não conseguem enxergar a ciência fora da atuação política. Por isso, qualquer pesquisa precisa responder aos anseios da militância. Por isso, não se forma mais a inteligência, mas apenas o ativista.

E, apesar disso, muita gente, mesmo sendo crítica da ocupação feita por esses militantes em todos os poros culturais, acaba, sem perceber, agindo exatamente segundo os princípios deles. A verdade é que não adianta esperar a salvação da cultura nacional e o desenvolvimento da inteligência dos brasileiros se continuar a ver tudo como ato político. Enquanto não aprenderem a privilegiar a arte em si mesma, a ciência em si mesma, a cultura em si mesma e a inteligência em si mesma, vão continuar a experimentar a mediocridade intelectual que toma conta do país hoje em dia.

Somente o rebaixamento da política ao seu devido lugar fará com que a inteligência brasileira se liberte das amarras a que foi subjugada nas últimas décadas. Apenas a elevação da cultura para além da política e da militância fará com que, daqui a alguns anos, os brasileiros realmente possam participar dos altos círculos intelectuais do mundo e serem respeitados no universo científico.

No entanto, este não é apenas um recado para os que aparelharam os ambientes intelectuais oficiais, mas, principalmente, para aqueles que lutam contra esses invasores, para que não cometam o mesmo erro deles.