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A Linguagem Diversionista dos Frankfurtianos

Os pensadores da Escola de Frankfurt passaram todo o tempo da existência do Institut esforçando-se por passarem a imagem de moderados. Em seus escritos, abusaram dos eufemismos e da linguagem diversionista, sempre com o intuito de tornar a adesão ideológica de seus membros escondida por trás das expressões escolhidas. Palavras como socialismo, comunismo e marxismo eram constantemente evitadas. Em seu lugar, era comum usarem pensamento progressista, sociedade avançada, materialismo histórico, forças construtivas da humanidade etc.

Diante disso, muitos leitores tiveram dificuldade de captar a intenção apologética dos frankfurtianos. Não perceberam que por trás de toda pretensa erudição e rigor metodológico havia, antes de tudo, o objetivo de tornar o socialismo aceito pela sociedade. Mais ainda, os próprios estudos eram feitos fundamentados nas premissas marxistas.

Assim, a Escola de Frankfurt tornou-se uma das maiores influências intelectuais do Ocidente.

Nada disso teria acontecido, porém, se aqueles que os leram e interpretaram atentassem para o fato de que a linguagem é o adorno pelo qual o autor escolhe como vai expor o conteúdo de seu pensamento, podendo ser fiel a ele, tornando-o mais belo e assimilável, mas sem alterar sua essência, ou ser uma vestimenta nobre em corpo de mendigo, servindo apenas para dar aparência de riqueza a algo que é miserável.

A verdade é que, para entender a profundidade do pensamento de alguém, o pior método é apegar-se à linguagem escolhida pelo autor. Na verdade, o verdadeiro trabalho do intérprete consiste em desbastar a mata linguística que costuma esconder o sentido real que se encontra por trás dela.

Quem ignora isso, não está apto para captar a verdadeira natureza do discurso, tornando-se vítima da confusão promovida por uma linguagem muitas vezes escolhida para confundir mesmo.

Na verdade, se as pessoas prestassem mais atenção ao conteúdo, em vez de ficarem deslumbrados com a linguagem usada pelo autor, muito menos lixo seria propagado por aí.

Inocência ou missão

Os pensadores da Escola de Frankfurt foram bastante razoáveis ao criticar o fascismo e o stalinismo, revelando a natureza autoritária do Estado governado por essas duas ideologias.

No entanto, enquanto faziam isso, continuavam acreditando nas promessas socialistas, desenvolvendo seu pensamento sob as categorias marxistas, ignorando que o socialismo que todos eles defendiam, inapelavelmente, sempre acaba desembocando em um governo autoritário.

A impressão que se tem é que eles não viam que o socialismo é um proposta de sociedade que impõe um determinado tipo de ordem que exige planejamento e direcionamento detalhados. O socialismo pressupõe planificação e dirigismo.

Não há, portanto, como implantar uma sociedade socialista sem que seja por meio de uma ditadura. Inclusive, Marx tinha plena consciência disso ao pressupor a ditadura do proletariado.

Não é por acaso que o socialismo sempre transforma-se em ditadura.

Os frankfurtianos não perceberem isso, ao mesmo tempo que criticavam o Estado autoritário, conduz-nos a duas conclusões possíveis: eles eram muito ingênuos, cegados pela fé ideológica, ou seu papel era exatamente tornar o marxismo palatável para o mundo.

O espírito de Frankfurt

Quando o muro de Berlim veio abaixo, quase todos que testemunharam aqueles acontecimentos esperavam que as ideias que o sustentaram ruíssem também. No entanto, aconteceu exatamente o contrário: enquanto a União Soviética sumia do mapa, o marxismo, que era seu espírito, espalhou-se, possuindo almas por todo o mundo.

O comunismo, que parecia decrépito no final dos anos oitenta, aparece completamente vitalizado no século XXI. De intelectuais a políticos, além de quase toda a expressão cultural vigente, praticamente não há ninguém, nem setor algum, que esteja livre da influência marxista, se não nos objetivos políticos, pelo menos na sua forma de pensar.

A verdade é que o comunismo permanece bem vivo, certamente até mais forte do que antes. Após o fim da Cortina de Ferro, ele revigorou-se de tal forma que, hoje, é o pensamento dominante no mundo.

Como ele conseguiu isso?

Quem salvou o comunismo foi a Escola de Frankfurt. Ela, que desde os anos 30 serviu de fonte de debates e reflexões sobre o marxismo e sua relação com a sociedade, depois que, por causa das circunstâncias relativas à ascensão nazista na Alemanha, mudou-se para os Estados Unidos, conseguiu difundir suas ideias, de maneira que elas penetrassem profundamente no imaginário das pessoas e em sua cultura.

As ideias dos pensadores da Escola de Frankfurt penetraram fundo nos corações e mentes porque, por um lado, conseguiram preservar o ideal marxista sem ferir seus fundamentos, por outro, deu novo ânimo ao movimento, libertando-o das amarras que não permitiam que ele se expandisse.

A verdade é que o comunismo, com a implantação do regime soviético na Rússia, tornou-se, cada vez mais, um sistema hermético e doutrinário. Fundamentados nas ideias estabelecidas na Primeira e Segunda Internacionais, o regime estabeleceu-se, fechando-se dentro de si mesmo, tornando o comunismo uma ideia desapegada do resto da humanidade. Comunistas eram aqueles seres estranhos, que viviam em uma terra estranha, com ideias mais estranhas ainda.

Foram os intelectuais judeus-marxistas da Escola de Frankfurt, como Horkheimer, Adorno e Marcuse que deram vigor a um movimento (que sempre existira dentro do comunismo) de revisão dessa maneira cerrada de ver as ideias comunistas e passaram a divulgar seus pensamentos.

Mal vistos pelos marxistas ortodoxos, os intelectuais de Frankfurt, pouco a pouco, conseguiram aproximar o marxismo da vida real das pessoas que viviam no Ocidente, tornando-o algo palatável, em princípio, até o ponto de fazê-lo agradável e desejável.

O sucesso das ideias frankfurtianas se deram por diversos motivos. O primeiro deles foi o fato de oferecerem uma opção anti-dogmática do marxismo. A forma doutrinária de pensar o marxismo foi fortemente criticada pelos intelectuais da Escola de Frankfurt, que promoveram um pensamento mais flexível das ideias marxistas. Isso elevou-o para algo menos materialista, em seu sentido mais estrito, e acrescentou um aspecto espiritual a ele (entendendo-se aqui espírito como algo ligado à intelectualidade e consciência humanas). Assim, o homem, que no marxismo ortodoxo era visto praticamente como mero efeito das condições materiais da sociedade, ganhou dignidade, com uma certa valorização de sua subjetividade, transformando-o em autor da obra revolucionária, não apenas resultado dela. Com toda essa mudança de perspectiva, outros setores da sociedade, além do proletariado, puderam ser agregados ao movimento responsável pela implantação do comunismo, dando poder de penetração das ideias socialistas por todo o Ocidente.

Claro que isso não aconteceu do dia para a noite. Enquanto existia a União Soviética, esse marxismo liberal de Frankfurt se estabelecia de maneira um tanto sorrateira, algumas vezes com o próprio aval de Moscou, outras em formas que iam além do que o próprio núcleo do Politburo podia controlar.

O fato é que, enquanto o comunismo soviético ia se degradando, dia após dia, o outro comunismo, saído das penas dos intelectuais da Escola de Frankfurt ia se expandindo, apoiado pela longa marcha pelas instituições, com influência das ideias promovidas por Antonio Gramsci.

O comunismo então foi se moldando para seduzir novos adeptos, inclusive aqueles ligados a setores antes completamente rechaçados pelo movimento, como religiosos, minorias, marginais, espiritualistas e mesmo grandes capitalistas.

Quando a União Soviética cai de vez, junto as estátuas de Lenin derrubadas, o espírito do novo comunismo se liberta de vez, agora sem as amarras do corpo doutrinário que lhe limitava.

Hoje, quase mais ninguém está livre da influência das ideias marxistas. Graças à Escola de Frankfurt, elas se tornaram tão amplas e maleáveis que quase nenhum setor da sociedade pode dizer que consegue manter-se completamente protegido delas.

Inclusive, a maleabilidade é tal que até permite com que comunistas neguem essa sua condição, usando as ideias de Frankfurt para parecer que são críticos do comunismo, quando, na verdade, estão apenas usando do mesmo expediente da escola: criticar um aspecto exterior da ideologia para fortalecer seu espírito.