Tag: Política Brasileira

Guerra Silenciosa

A sobrevivência em tempos anormais se dá de duas maneiras: pela completa alienação ou pela plena consciência.

Eu jamais poderia aconselhar alguém a alienar-se dos problemas e questões mundanas, porque isso seria um contrassenso. A alienação é um tipo de ignorância e, a partir do momento que a pessoa tenta se alienar, ela automaticamente, pela consciência do problema, não conseguiria.

Resta, então, para aqueles que não pretendem viver na ignorância, tomar plena consciência da situação que estão e, a partir disso, traçar as estratégias que pretendem seguir para sua sobrevivência.

O primeiro fato que se deve tomar consciência é de que os tempos atuais não são normais. Não estamos (ainda) sob uma ditadura total, mas em um processo que tenta implantá-la. Este processo acontece em meio a uma guerra silenciosa entre os poderes do Estado. Uma guerra que envolve interesses, projetos e ameaças veladas entre as forças institucionais e que, sendo uma guerra, não temos como prever seu desenlace.

O que me interessa, primordialmente, é que nós, pessoas comuns, estamos em meio a esta guerra, sob esse fogo cruzado, que por enquanto é apenas retórico e de ações institucionais. No entanto, não podemos dizer quais serão os próximos andamentos e como isso nos afetará mais diretamente.

A guerra contemporânea é, antes de tudo, psicológica e os soldados dela, sem saber, muitas vezes somos nós. Mas, sendo psicológica, atuamos nessa guerra inconscientemente e acabamos agindo não necessariamente para atingir os nossos interesses, mas daqueles que nos manipulam.

Por isso, ter consciência dessa realidade é o que nos permitirá agir com sabedoria, orientando-nos em nossos atos e palavras, norteando-nos em nossos passos e ensinando-nos sobre o momento de agir e de esperar, de falar e de calar, de ser claro ou obscuro, de ser direto ou estratégico. Tudo para que não nos tornemos nem instrumentos nem alvos.

Reforçando as regras do jogo

Apostaram que Jair Bolsonaro seria a ponta de lança numa revolução contra o establishment.

Arremessaram-no, então, sem meios de sobrevivência, junto às cobras e feras do sistema de poder brasileiro.

No começo, ele até tentou bater de frente com esse sistema, mas parece que logo percebeu que os mártires nem sempre são lembrados como heróis, mas, geralmente, apenas como radicais que foram longe demais.

Para sobreviver, parece então que Bolsonaro buscou um apaziguamento.

Diante disso, alguns de seus apoiadores sentiram-se traídos e abandonados pelo presidente.

No entanto, há algo que parece que todos esqueceram.

Independentemente das ações de pacificação do Bolsonaro estarem corretas ou não, uma coisa é certa: não se destrói um jogo por meio das regras desse mesmo jogo.

As eleições, leis, funções e burocracias que existem fazem parte daquilo que mantém o modelo de poder atual de pé.

As regras são a estrutura de sustentação desse sistema. Cumpri-las, portanto, serve somente para reforçá-lo.

Responsabilidade indireta

O Supremo Tribunal Federal está mostrando seu caráter ditatorial. E, com razão, as pessoas estão criticando-o por isso.

O que elas esquecem de observar é que nós, os eleitores, somos, de alguma maneira, os responsáveis por essa composição atual do tribunal.

É que os ministros são indicados diretamente pelos presidentes. E como nos últimos 20 anos só tivemos presidentes de esquerda – eleitos por nós, o povo – e, antes, outros inconfiáveis, os membros de hoje do STF são todos indicados por esses governantes, ou seja, indiretamente por nós.

O resultado está aí.

Temos de reclamar, mas não esquecer que esse mal tem causa e motivo.

Os grilhões que nos prendem

Um país que pretende superar suas mazelas e ingressar de vez em tempos de prosperidade e estabilidade precisa olhar para a frente, tomando o passado como lição, mas não como o determinador de todos os seus caminhos.

O Brasil, porém, está com uma bola pesada amarrada aos pés, enquanto seus formadores de opinião e políticos vivem como se ainda estivéssemos nos anos sessenta.

A geração que hoje representa a intelectualidade influenciadora do seio da política nacional e a grande mídia é formada toda por ex-guerrilheiros e combatentes de esquerda que, vendo a si mesmos como guerreiros contra uma ditadura, consideram-se os personagens responsáveis pela restauração da democracia no país.

A consequência direta disso é que , ao mesmo tempo que apresentam-se como os paladinos do Estado de Direito, perseguem aqueles que se encontram do outro lado do espectro político – conservadores, militares, direitistas e anti-esquerdistas – como criminosos.

Com isso, assumem o monopólio da política, abrindo a possibilidade para que aconteça o que testemunhamos nas últimas décadas: a dilapidação do patrimônio e a corrosão das instituições brasileiras.

E para que esse status permaneça, preenchem a todos os espaços da República, afastando a qualquer um que ameace suas posições. Fazem isso não deixando que o período do governo militar brasileiro, com a mentalidade característica daquele tempo – de jovens ativistas deslumbrados com as falsas promessas de um paraíso comunista lutando contra generais toscos que sabiam que sua missão era não deixar o país seguir os mesmos caminhos de Cuba – passe.

O que ficou hoje, depois que os antigos militares já não estão mais entre nós, são aqueles garotos e garotas militantes, agora decrépitos e envelhecidos, infiltrados em todas as esferas do poder, sem conseguir, nem querer, superar 64 – e menos ainda 68 – vivendo quase exclusivamente pelo desejo de vingança e ressentimento, acreditando-se possuidores de um salvo-conduto que lhes permite falar e fazer todas as barbaridades.

Por isso, tenho a convicção de que enquanto essa geração de órfãos da Guerra Fria não passar ou, pelo menos, for derrotada política e intelectualmente, o Brasil não conseguirá seguir em frente. Ela é nosso retrocesso, o nosso impedimento, os grilhões que nos impedem de prosseguir.

Enquanto forem essas pessoas que ditarem a pauta política e determinarem a agenda do país, ficaremos reféns de sua visão retrógrada e impossibilitados de avançar como povo, como nação e como sociedade.

O que o politicismo integral revela

img_1521O Brasil politizou-se. Pelo menos essa é a impressão quando vemos tantas pessoas discutindo sobre os assuntos políticos do momento. Talvez não tenha alcançado, ainda, aquele estágio de consciência necessário para achar-se como um país maduro, no entanto, não há como negar que, há algum tempo, neste país praticamente não se fala de outra coisa além de política.

Isso, porém, diferente do que pode parecer em um primeiro momento, é um sinal evidente que vivemos um período sui generis, quando as questões políticas estão tão em evidência que é praticamente impossível fugir do assunto. E essa realidade acontece, principalmente, em momentos de crise. Apenas quando as questões políticas estão fugindo de sua normalidade é que as pessoas, que normalmente são desinteressadas, começam a falar sobre elas. Continue Reading