Em outros tempos, os inteligentes eram os contestadores; sábios, aqueles que não se rendiam às imposições da cultura e não se conformavam aos modelos seguidos pelas massas.
Hoje, as coisas mudaram. Para ser tido como inteligente é preciso replicar os lugares-comuns, falar o que todos falam, ratificar o discurso oficial.
Não se pode mais questionar nada: os interesses por trás das práticas científicas, os objetivos dos políticos, os modelos de governo. Parece que, de repente, tudo isso se tornou absoluto.
Tanto que temos visto jornalistas defendendo a supressão da liberdade de expressão, artistas comemorando a censura e pensadores louvando o cerceamento da opinião –─ tudo porque, para eles, algumas “verdades” são inquestionáveis.
Inclusive, quem ousa levantar dúvidas sobre certas narrativas oficiais acaba sendo tratado como teórico da conspiração.
Entretanto, o que é tão óbvio que não pode ser questionado?
Na verdade, nada é óbvio quando olhado com atenção. Até porque, quem tem a capacidade imaginária mais expandida consegue ver as mesmas coisas por perspectivas diferentes, vislumbrando possibilidades diversas para situações semelhantes. Diante disso, nada mais é tão óbvio. A obviedade transforma-se numa exceção.
Uma pessoa inteligente, portanto, se permite duvidar, sem medo por saber que as primeiras impressões são enganosas.
Claro que não me refiro aos paranoicos e revolucionários, que contestam tudo, pelo mero costume da oposição. Falo, sim, da importância de se preservar o direito de se levantar dúvidas, de propor pontos de vistas diferentes, de se perguntar se certas coisas tidas como certas não têm outras explicações.
O fato é que, ao se impedir a dúvida, resta apenas a opressão das certezas fabricadas. Por isso, duvidar acaba sendo um exercício típico de todos os grandes pensadores que, não conformados às certezas desta vida, ousaram levantar sua voz para desafiá-las.
Até porque sem dúvida não há ciência, nem evolução, pois somente ela tira a humanidade de suas convicções estacionárias e permite seu amadurecimento.