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Excesso de Vozes nas Redes Sociais

As redes sociais nos têm feito muito mal. Nossa estrutura humana – psíquica e física – não é capaz de processar tantas informações, principalmente da maneira desenfreada como as consumimos. É um verdadeiro ataque silencioso ao nosso espírito.

Tenho plena convicção de que muito da depressão, pensamentos suicidas, sensação de falta de sentido e um desânimo mórbido são consequências dessa exposição inconsequente.

O ser humano sempre absorveu uma quantidade limitada de dados. Mesmo com os meios de comunicação em massa, quando houve um aumento exponencial das informações, nada se compara ao que temos hoje. Somos bombardeados pelos conteúdos mais diversificados, que se alternam em segundos. Abarrotamos nossa alma com todo tipo de ideias, pensamentos, conselhos, notícias, estudos, informações, piadas, imagens e sensações.

Tudo a que nos expomos, querendo ou não, ingressa em nosso espírito. Independentemente da qualidade desses conteúdos, nosso cérebro tentará processar essas informações, ainda que nada faça sentido para ele. Claro que essa tarefa lhe é hercúlea. Como consequência, pensamentos e sentimentos afluirão anarquicamente de dentro de nós, sem que sequer percebamos.

Nós não temos controle de tudo o que absorvemos. Em geral, somos meros pacientes nesse processo, colaborando muito pouco com ele. Como nossa mente vai processar tudo acaba sendo uma incógnita. Pode ser que crie sínteses criativas e inteligentes, ou gere neuroses, ideias negativas, ilusões esquizóides e obsessões. Por isso, tenho convicção que muito dos sentimentos e pensamentos negativos que brotam de dentro de nós são fruto dessa relação irresponsável com as redes sociais.

Pouca gente irá falar sobre isso, porque muitas delas ganham muito com essa dependência que as redes sociais provocam. Mesmo assim, não sou contra seu uso, pois reconheço as possbilidades que oferecem. Apenas proponho a ponderação em relação ao seu consumo, lembrando sempre de que não nos há nada mais caro do que a nossa sanidade.

Rebote irônico

Tolstoi conta que quando seu irmão mais velho lhe propôs que ele não pensasse em ursos brancos, a única coisa que vinha em sua mente era exatamente ursos brancos. Muitos anos depois, denominou-se rebote irônico o fato de quando tentamos afastar qualquer coisa do nosso pensamento tendemos a pensar ainda mais naquilo.

Vocês entendem porque algumas pessoas tornam-se obsessivas em relação aos seus problemas? Muitas vezes, é porque esforçam-se demais para tentar livrar-se deles.

Talvez, por isso, a melhor maneira de afastar um pensamento ruim não seja tentando esquecê-lo, mas fazendo exatamente o contrário.

Quando enfrentamos uma ideia desagradável, falando dela abertamente, aquilo que tinha tudo para tornar-se uma obsessão acaba até perdendo a importância.

Funciona assim: se nos esforçamos para nos livrar de algo, temos de pensar o tempo todo naquilo, o que o torna aparentemente relevante. Se, por outro lado, aceitamos a existência desses problemas e os encaramos abertamente, eles começam a parecer, como tudo que está facilmente disponível, como algo sem importância.

Assim, quem quer se livrar de pensamentos perniciosos, o melhor é falar deles, encará-los sem medos e principalmente sem supervalorizações desnecessárias.

Maus pensamentos não mordem e monstros só existem na nossa imaginação.

Escrever contra a depressão

Eu nunca fiz terapia. Na verdade, nunca me senti necessitado dela. Não que eu seja uma pessoa absolutamente equilibrada e totalmente bem resolvida, mas, do meu próprio jeito, sempre encontrei meios de vencer as tendências depressivas da alma.

E, algumas vezes, essas tendências surgiram com bastante força. Mas, apesar de ter um temperamento que, em parte, é melancólico, tenho consciência que não foi por ele que, de vez em quando, surgiram os impulsos negativos. De fato, eles surgiram, normalmente, como fruto dos desafios da vida, das frustrações e das dificuldades.

Sendo assim, sempre cuidei de me atentar para quando os primeiros sinais de melancolia começassem a aparecer. Aquela falta de vigor, a energia que não vem, o desânimo diante dos desafios da vida; quando essas coisas surgem, em mim, por mais de dois dias seguidos, desperto o alerta, com o intuito de não permitir que esses sentimentos evoluam para algo mais grave, como uma depressão, por exemplo.

E para impedir isso, recorro a alguns métodos que sempre funcionam muito bem comigo. O primeiro deles é a própria consciência da minha fragilidade. Saber que, apesar de nunca ter sofrido com a depressão, eu não estou absolutamente livre dela, ajuda-me a precaver-me. Aliás, esta é uma das causas de muitas pessoas entrarem em estado depressivo: por nunca o terem experimentado, acreditam que não estão a ele sujeitos. Assim, aos primeiros sinais de melancolia, tomo a precaução de buscar formas de superá-la.

No entanto, entre os vários meios que utilizo para vencer o perigo, o mais eficaz, para mim, sempre fora a escrita. Escrever meus sentimentos, mas não apenas eles, e, sim, despejar nas letras meus pensamentos e raciocínios me ajudam a mitigar a depressão que, às vezes, começa a querer instalar-se.

Isso porque um fator que, mesmo que não seja a causa imediata, colabora para o aprofundamento do estado depressivo é o raciocínio circular que o doente começa a desenvolver. Quando se instala, o enfermo já não consegue mais encontrar alternativas à insistência da negatividade nos pensamentos. Por mais que queira, sua razão, teimosamente, lança-o em uma repetição incansável de sugestões deprimentes.

Ao escrever, porém, por mais que o início do exercício sempre demande um certo esforço, pois a cabeça e o corpo, nos momentos de pré-depressão, parece que exigem a alienação de tudo o mais, sinto como se as paredes que se levantam para me manter preso em um cubículo de raciocínios negativos e circulares comecem a ruir. E conforme mais eu escrevo, mais ar eu sinto que respiro, até chegar ao ponto que aquilo que era um estado de sufocamento se torna em sensação de libertação.

Expor pensamentos por meio da escrita exige do escritor ir além dos raciocínios que o cercam. Escrever é abrir horizontes, é forçar a si mesmo desbravar matas cerradas, que precisam ser transpostas com o uso de golpes insistentes contra aquilo que se põe no caminho. Isso, obviamente, faz com que ele seja forçado a lançar-se fora da obsessão negativa que o cerca.

Além disso, escrever, principalmente para leitores, é um ato de amor. Quem escreve para ser lido está, da maneira mais altruísticamente possível, compartilhando conteúdos que pertencem apenas a ele mesmo. Isso, sem dúvida, é um eficiente modo de vencer o ensimesmamento típico do estado depressivo. A depressão causa, naquele a quem acomete, um círculo vicioso de pensamentos onde apenas ele mesmo importa, apenas sua situação presente é considerada. Não há interesse, nem energia, para cuidar de nada mais, nem se preocupar com ninguém mais. O ato de escrever, portanto, me parece muito eficiente para vencer esse problema. Ao doar aquilo que está em mim, a fim de que outros leiam, dou um passo decisivo para sair daquele estado de pensamento egoísta. Como dizia Chesterton, ao pregar (no meu caso, por meio da escrita), dou a primeira prova de generosidade e, por ela, começo a deixar para trás aquilo que caracteriza os depressivos: a introversão obsessiva.

É por isso que o ato de escrever, para mim, é tão importante. Eu sei que ele vale mais do que um exercício intelectual. Na verdade, ele é o antídoto contra o egoísmo e obtusidade típicos do estado depressivo. Ao compartilhar meus pensamentos, experimento a caridade, que é inafastável da pregação que todo o escritor realiza. Ao colocar à disposição dos outros aquilo que existe apenas em mim, deixo de ser apenas eu no mundo e passo a ter com as pessoas algo em comum. Diante disso, não há depressão que resista.