Marco Feliciano e as cotas

O deputado Feliciano, depois de lutar ardorosamente contra uma dessas minorias, parece agora estar cedendo docemente para outra

A política, como a vida, é complexa demais para, por conta de uma atitude isolada dentro de seu jogo, darem-se por conhecidas, em profundidade, as ideias que permeiam a cabeça de qualquer pessoa. Atos meritórios em uma área específica podem ser confrontados com terríveis equívocos em outra área qualquer, demonstrando que, quando falamos da luta de poder, coerência não é a qualidade primeira dos participantes.

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O invisível condutor misterioso

Quem é nascido do espírito não pode dizer mais que sabe o rumo certo de sua vida

A vida cristã começa com um tímido aceite de algo que não conhecemos bem, que não temos a mínima noção de sua potencialidade e que, quase sem percebermos, toma todo o nosso ser, penetrando em nosso espírito, se apoderando de nosso corpo e direcionando toda a nossa vida (Mt 13.31-32). Talvez esse seja o temor daqueles que até se sentem atraídos pelo chamado cristão, mas rejeitam ingressar em algo que cresce de tal maneira que foge ao controle deles mesmos.

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Nem cético, nem leviano

O reconhecimento da complexidade da realidade é, afinal, algo bastante cristão

Não se deve confundir ponderação com abstenção. Quando proponho aceitarmos o estado de dúvida e sermos humildes em relação à complexidade da realidade, em nenhum momento quero dizer que não devemos ter convicções ou que nunca chegaremos ao conhecimento de nada. Pelo contrário, é por crer que a verdade existe e é cognoscível que empreendo meus estudos e reflexões, mesmo que com cuidado.
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Sem medo da dúvida

Somente quem aceita que não está ainda na posse da verdade plena, que há diversos assuntos que ainda precisam ser esclarecidos, pode se colocar na posição de quem busca a verdade

Parece que há apenas duas posições possíveis para o analista, o crítico e o historiador: o comprometimento cego ou a isenção desinteressada. Aquele é representado pelos que se colocam como ideólogos propagandistas de certa maneira de pensar, pondo de lado qualquer demonstração que seja contrária à sua ideologia, religião e convicções, enquanto esta encontra seus exemplares nos que se mantém como observadores impassíveis e em uma posição superior em relação a tudo o que acontece, como se nada os afetasse de verdade. O primeiro tipo é formado por pessoas imaturas, que não conseguindo sair psicologicamente da adolescência, vêem o mundo apenas por um prisma muito pessoal, apegando-se a ideias e grupos que, de alguma maneira, confortem seus corações inseguros; o segundo tipo é formado por psicopatas, muitas vezes inteligentes, que não têm empatia com nada, mas vivem como se o mundo se desenrolasse completamente à parte de suas próprias vidas.
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A riqueza na complexidade e nas incoerências humanas

Nunca é bem compreendida minha afirmação de que as análises que faço sobre religião, sua história e até suas doutrinas são sempre empreendidas, dentro da medida do possível, de uma maneira que minhas convicções mais profundas não interfiram nas conclusões. Algumas pessoas que leem isso deduzem que, na verdade, não tenho convicções, que sou um indeciso ou mesmo alguém que não quer se comprometer com nada, assentando-se em uma posição confortável quase agnóstica.

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Uma cultura psicopática

O problema da psicopatia é algo sobre o qual muitos autores da área da Psicologia têm se debruçado ultimamente, buscando  realçar suas  características e sua presença na sociedade. Mesmo o cinema já retratou vários desses tipos e a tv apresenta muitos seriados com esse tema. Existem séries específicas sobre personagens psicopatas.

O que parece certo para os estudiosos dessa patologia é que cerca de 4% da população apresenta traços de psicopatia. Entre os prisioneiros, este número sobe para 15%.

Na verdade, a psicopatia possui vários graus. Nem todo psicopata é um assassino em potencial. No entanto, há algumas características que são comuns a todos eles. Se fôssemos destacar a mais marcante, poderíamos assinalar a total ausência de culpa ou remorso. O psicopata é capaz de prejudicar uma pessoa sem sentir o mínimo de inquietação na consciência por isso.

Desde que comecei a estudar o assunto, passei a observar o comportamento das pessoas, tentando identificar quais apresentavam traços de psicopatia. É surpreendente, e ao mesmo tempo revelador, descobrir que pessoas que conviviam comigo há tanto tempo eram, provavelmente, em algum grau, psicopatas. Digo que é revelador, porque isso também explica muitas atitudes delas que antes pareciam incompreensíveis para mim. 

Mas pensando de uma maneira mais ampla, o número de psicopatas na sociedade atual me parece bastante alto para algo que deveria ser uma exceção mínima no comportamento social. Tenho dúvidas se realmente tantas pessoas são psicopatas ou se elas simplesmente não estão aprendendo a agir como um. Na verdade, o que observo é que mesmo pessoas que, normalmente, não apresentam um quadro de psicopatia, vez ou outra tomam atitudes ou assumem características típicas dos psicopatas.

A pergunta que faço é: não seria a nossa cultura moderna psicopática? E por ela ser assim, não estaria ocorrendo de mesmo pessoas que não sofram da psicopatia como patologia acabarem por absorver algum tipo de comportamento que se assemelha ao de um psicopata?

Minha pergunta foi, então, foi respondida por um cientista, estudioso da ponerogênese (origem do mal), Andrew Lobaczewski, que escreveu em seu livro “Ponerologia”, o seguinte:

“Toda pessoa, no decorrer de sua vida, e particularmente durante a infância e a juventude, assimila material psicológico das demais pessoas através de ressonância mental, identificação, imitação e outros meios de comunicação, em seguida transformando tudo isso para construir sua própria personalidade e visão de mundo. Se tal material é contaminado por fatores patológicos e deformidades, o desenvolvimento da personalidade também pode ser deformado. O produto será uma pessoa incapaz de entender corretamente tanto ela mesma como outras pessoas, tanto as relações humanas normais como as morais Ela se desenvolve para ser uma pessoa que comete atos maus com um sentimento medíocre de deficiência”.

Se assumirmos a hipótese de Lobaczewski como verdadeira e tentarmos rastrear onde poderia ter começado a se infiltrar na cultura ocidental essas características psicopáticas, poderíamos arriscar que quando ela começou a combater o cristianismo frontalmente, tentando negá-lo ou, pelo menos, lançá-lo para fora da esfera pública, foi quando a cultura começou a desenvolver a psicopatia como uma de suas características.

Explico: o cristianismo sempre tratou com a questão da culpa e do arrependimento. Um cristão é instado a se avaliar ininterruptamente a fim de perscrutar seus verdadeiros motivos para que, detectando seus erros, possa arrepender-se a fim de ser perdoado por Deus. É claro que a proposta cristã é de superação da culpa pela graça. No entanto, nem sempre as sociedades cristãs souberam equilibrar isso muito bem. Seja no período pós-apostólico, em diversos momentos do medievo, nas comunidades puritanas, na Inglaterra vitoriana e outras tantas formas que o cristianismo se manifestou, a impressão que eu tenho é que a culpa ocupou um lugar de maior destaque do que a graça e aquela frase de Paulo, que disse que onde abundou o pecado superabundou a graça, parece não ter tido um efeito tão evidente nelas.

Em determinado momento histórico, quando setores da sociedade começaram a contestar a visão cristã do mundo, um dos primeiros dogmas que tentaram se livrar foi exatamente o da culpa. Cansados de lutar contra a acusação cristã de que todos são pecadores e naturalmente estão condenados, sem compreender a própria solução que o cristianismo oferece da graça divina, escolheram simplesmente negá-la, afirmando que o homem não deve se prender aos remorsos de seus erros, mas superá-los pela liberação da consciência.

Chegamos então ao mundo pós-moderno, onde uma das frases mais ditas, típica de um psicopata, é: não me arrependo de nada que fiz. Uma sociedade que preza pelo sucesso a qualquer custo, que ensina que o que importa são os fins a serem alcançados, que educa seus filhos a cantar que cada um deles não deve olhar para trás e nem se arrepender do que faz, reflete ou não as características comuns aos psicopatas?

O que eu quero dizer é que talvez esse número de psicopatas clínicos nem seja tão grande assim. O que ocorre é algo muito mais perigoso: vivemos em uma cultura que tem características psicopáticas e que, por isso, mesmo pessoas que não sejam psicopatas, como forma de se adequar nesta sociedade e conquistar a ascensões sociais possíveis dentro dela, acabam por introjetar as características psicopáticas existentes nela. E quem vai negar que a ausência de remorso, o narcisismo, a responsabilização alheia, o individualismo, a bajulação e a necessidade de estímulos constantes são características da sociedade atual? Bem, são exatamente estas as características de um psicopata!

Kerry Daynes e Jessica Fellowes, duas estudiosas inglesas da psicopatia, concluem que boa parte dos políticos e empresários conhecidos devem ser psicopatas. Mas, pensando bem, talvez estes apenas tenham se adaptado melhor à própria sociedade onde vivem.

A dispersão diária de nossa vida

Se a vida cotidiana é capaz, com seus estímulos diversos, de abrandar os pensamentos mais obsessivos e opressores, imagine quanto mais ela não faz com outros pensamentos que, pelo contrário, já são sutis por natureza

Quando uma pessoa comete algum ato injusto, logo nos perguntamos: “Como ela consegue colocar a cabeça no travesseiro?”. Nós usamos o travesseiro como o símbolo daquele momento que nos preparamos para dormir, quando parece que os pensamentos mais importantes que rondam nossa cabeça teimam em atrapalhar nosso sono. Eu, por exemplo, tive épocas, quando acumulei problemas sérios em minha atividade profissional, que encontrava muita dificuldade para pegar no sono. Isso porque parece que tudo aquilo que estava pendente e precisava ser resolvido decidia povoar meu pensamento, com mais intensidade do que em qualquer outra hora do dia, exatamente naquele momento que eu recostava minha cabeça no travesseiro.

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Empreendedor: o verdadeiro herói

O que seria do país se não fossem esses loucos, que por causa de sua loucura mantêm o país andando e, de alguma maneira, crescendo?

Apesar do meu último texto, O Louco Empreendedor, no qual tratei quase como insanidade a decisão de abrir uma empresa no Brasil, eu realmente admiro pessoas que corajosamente se lançam no mundo dos negócios por sua própria conta e risco. Talvez seja por isso que fico tão sensibilizado com a situação do empresariado brasileiro. É uma sensação de injustiça perpetuada por um Estado que, se dizendo social, é apenas arrecadador.

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A criminalidade atual não é romântica

No mundo que vivo, quero defender o direito de quem tem poder, livremente, mostrar que tem

Há alguns opinadores que são românticos e que parecem viver ainda no tempo do Bandido da Luz Vermelha. E um deles, colunista da Folha de São Paulo, andou dando a entender que a ostentação de elite paulistana é uma causa séria para a criminalidade na cidade. A elite seria a culpada, ao ostentar sua riqueza, por provocar em jovens pobres ressentidos a necessidade do crime.

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O louco empreendedor

Analisando friamente, abrir empresa no Brasil é quase prova de insanidade

Um país apenas pode ser próspero se der plenas condições para que aqueles que investem seu dinheiro em negócios próprios prosperem. Uma nação somente alcança desenvolvimento econômico quando seus empreendedores têm possibilidades reais de lucrarem.

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