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Empatia seletiva

Empatia, quando reivindicada em certos casos e esquecida em outros não é empatia, mas hipocrisia. Por isso, quando a exigem em relação afetados pela doença, mas desprezam-na quando se trata das famílias arrasadas por falta de trabalho, eu logo concluo que há algo de errado.

Saúde vem antes da economia, dizem. Porém, o pensamento subjacente a essa afirmação é que economia não importa. Afinal, pensam, economia resume-se a trabalho e dinheiro. Como o primeiro odeiam-no sempre e o segundo quando em mãos alheias, não há motivo para se importar.

O fato é que, na mentalidade geral, o empresário, o prestador de serviços, o comerciante não são dignos de pena. Afinal, são meros capitalistas correndo atrás do vil metal. Que importa, então, se seus meios de subsistência são tolhidos? Talvez, assim até aprendam que existem coisas mais importantes do que o dinheiro.

Na verdade, toda essa insensibilidade em relação aos problemas econômicos tem muito de uma cultura que odeia o empreendedor; que sente até um certo prazer quando vê um deles indo à bancarrota.

Por isso, não me engana esse excesso de empatia por causa da questão sanitária, a ponto de dar de ombros para a ruína econômica do vizinho. Muitas vezes, ela apenas revela um ressentimento que encontrou a circunstância ideal para se manifestar.

Nosso baile de máscaras

Uma moça colocou em seu instagram uma foto de comida saudável, acompanhada da seguinte frase: “firme em meus objetivos”. Porém, logo no primeiro comentário, surge seu esposo, dizendo: “a porção de fritas com bacon de ontem à noite que o diga”.

Isso é rede social, meus amigos: não sobrevive a um sopro sequer da vida real.

Ainda assim, há muita gente usando as redes sociais de maneira equivocada, dando a elas a credibilidade que não deveria dar. Olham para os perfis e suas postagens como se aquilo representasse alguma verdade; como se ali houvesse alguma sinceridade.

O resultado óbvio é a frustração, pois enquanto acompanham o exibicionismo das pessoas mais inteligentes, mais ricas, mais fortes, mais bonitas, mais bem-sucedidas, mais saudáveis e mais admiradas, ao mesmo tempo sentem-se burras, pobres, fracas, feias, fracassadas, doentes e rejeitadas.

É um efeito inescapável. Julgar o próprio valor com base no que vemos nos outros sempre foi nosso esporte preferido. No fundo, todos temos um pouco de Madame Bovary, lamentando nossa vida medíocre enquanto inveja o glamour alheio.

Na verdade, precisamos das comparações. Em tudo delas dependemos. Se vamos vender um carro, precisamos saber qual o preço dele no mercado. Ser considerado inteligente depende da época em que se vive. Até a percepção da beleza varia com o tempo e lugar. Sendo assim, as redes sociais acabam sendo um tipo de parâmetro para as pessoas analisarem a si mesmas, afinal, quem se encontra ali parece alguém de verdade, gente como eu e você, que não tem pudores de abrir sua vida para o mundo.

Porém, nisto encontra-se o erro: usar para efeito de comparação algo que não é real. Afinal, redes sociais são mera ilusão. Nada, praticamente nada, do que vemos nela é verdadeiro. Nem mesmo as fotos tiradas pela sua prima, nem o texto escrito pelo seu professor, nem no que sua mãe coloca ali dá para confiar.

Nada, em uma rede social, é espontâneo porque ninguém consegue ser espontâneo quando se expõe socialmente. Nossa relação com a sociedade nunca foi, em nenhuma época, sincera. Sempre quando foi necessário expor-se para a sociedade, as pessoas adornaram-se com suas fantasias. Nos bailes antigos, nos coquetéis, nos casamentos, nas festas de aniversário, nas reuniões na empresa, ninguém jamais é absolutamente espontâneo nesses momentos.

Nas redes sociais não é diferente. Elas apenas trouxeram a possibilidade de apresentar-nos diante da sociedade sem sair de casa. No entanto, a dinâmica permanece a mesma. Continua sendo uma forma de mostrarmos para o mundo uma versão idealizada de nós mesmos, uma versão aceitável, uma versão vendável, uma versão que permita que as portas da sociedade se abram para que possamos entrar por elas e conquistar o que nós queremos.

Essa necessidade de assumir uma persona social existe até como forma de auto-proteção. É na sociedade que as oportunidades surgem, que os negócios aparecem, que precisamos ganhar a simpatia até para podermos sobreviver. Expor-se nela como somos, com todos os nossos defeitos e fraquezas seria uma medida estúpida, quase um suicídio.

É verdade que, de vez em quando, alguns desavisados ou heróicos acabam expondo seus lados reprováveis. No entanto, isso é exceção. É o resultado da ampliação do acesso ao instrumento. E tal atitude acaba cobrando seu preço. A regra porém é a falsificação. A norma é o fingimento.

Por isso, referenciar-se nas redes sociais para julgar a própria vida é um erro. Quem faz isso acaba deprimido, frustrado, decepcionado. Olhar para si mesmo após acreditar que o que aparece em uma rede social é verdadeiro é como querer castigar-se propositadamente. É quase masoquismo.

Obviamente, não é preciso abandonar as redes sociais, mas tratá-las conforme sua verdadeira natureza: uma fantasia, uma ilusão, um espaço de diversão descompromissada. As redes sociais são o nosso baile de máscaras e cada um veste a sua para viver o seu próprio momento de relevância e alegria.

Ódio ao burguês

O discurso socialista apenas teve recepção nos corações e mentes de uma infinidade de gente porque já havia neles uma boa dose de ressentimento em relação às pessoas pertencentes às classes mais altas. É possível identificar isso desde o século XVIII, mas esse sentimento tornou-se mais evidente a partir do século XIX. 

O interessante é que apesar de haver uma certa inveja em relação à aristocracia, eram os chamados burgueses aqueles que mais causavam irritação. Isso porque o burguês, segundo a concepção marxista, não era necessariamente alguém que possuía uma condição de vida mais favorável por conta de hereditariedade ou tradição, mas por ter se beneficiado, de alguma maneira, das conquistas do mundo industrializado. O burguês, em essência, não era diferente do trabalhador ordinário, mas era comum que, por causa de suas condições materiais mais favoráveis, começasse a assumir ares afetados e emulasse modos aristocráticos. Isto era absolutamente irritante para o homem do povo, que via no burguês apenas um sortudo arrogante, de mau gosto e hipócrita. 

O ser humano é assim: pode conviver muito bem com o fato de que existam pessoas superiores a ele, desde que não tenham a mesma origem que a dele. O proletário não tem tanta inveja do aristocrata ou do nobre, que possui seu status por hereditariedade, do que do dono de fábrica que conquistou sua posição começando como trabalhador como ele. O sucesso de um igual é o espelho do próprio fracasso. E os movimentos socialistas sempre foram formados, em grande parte, por gente desse tipo: invejosos e fracassados.

Ódio ao empresário

Está arraigada na cultura brasileira o ódio ao patrão. Na cabeça do homem simples, que foi envenenada com décadas de discursos anticapitalistas, aquele que lhe dá emprego, na verdade, o explora.

Um professor destilou ódio contra os ricos empresários e disse que luta para que seus alunos não se conformem em ser subalternos, pois eles podem ser patrões. Que pena que seus alunos, quando alcançarem isso, serão odiados pelo seu ex-professor.

As pessoas, quando odeiam seus patrões, costumam apenas pensar no dinheiro que estes ganham, mas ignoram completamente os problemas, os temores e os riscos que eles suportam. Na verdade, tais críticos não possuem a fibra comum ao empresário e não têm coragem para arriscar-se como ele. Odeiam o empreendedor porque não sabem ganhar dinheiro da mesma maneira.

O fato é que aqueles que mais reclamam de seus patrões, normalmente, são os mais vagabundos. Quem trabalha seriamente sabe o valor que o trabalho tem. Quem entende a nobreza do esforço e o sentido da recompensa não fala mal de quem lhe dá emprego, mas quer um dia ser como ele.

Nunca tenha inveja de alguém rico. São as fortunas que proporcionam as oportunidades, os empregos e fazem a economia girar. Acabe com os ricos e sobrará apenas a miséria para ser equanimemente distribuída.

A violência da cultura do ressentimento

Desenvolveu-se a ideia da vingança, do suposto resgate histórico, que coloca as minorias em conflito com o que dizem ser a maioria opressora. Nisto, toda ação contra os representantes dessa maioria não é mais vista como crime, mas justificada pelo débito que afirmam existir.

Isso foi criado por uma cultura de ressentimento que, longe de fazer nascer direitos, conciliação e consciência, como é prometido, apenas frutifica um ódio que acaba por acobertar qualquer violência praticada contra os tipos representantes da suposta maioria. Não é por acaso que os crimes cometidos contra brancos e cristãos são tratados com desdém.

Não há grupo mais perseguido no mundo inteiro como o dos cristãos. São centenas de milhares mortos todos os anos por causa de sua religião. Ainda assim, tal notícia é praticamente ignorada ou sutilmente transmitida. E mesmo quando algo é informado, não causa qualquer tipo de escândalo.

Basta, porém, um negro, um homossexual, até mesmo criminosos ou até um cachorrinho, serem vítimas de alguma violência e as vozes se levantam horrorizadas. Justo que assim seja! No entanto, o disparate em relação à reação quando a vítima não pertence a esses grupos ditos minoritários só pode ser entendido como o resultado da visão ressentida, ainda que inconsciente, de que fazem parte de um tipo historicamente opressor e, assim, seus representantes não teriam o direito à mesma compaixão, mas à vingança.

Isso cria na sociedade uma divisão que, longe de refletir um progresso, com a diminuição das diferenças e aumento da fraternidade, apenas estimula mais ainda a existência de conflitos étnicos, raciais e religiosos. Não é por acaso, nessas circunstâncias, o ressurgimento dos grupos radicais,como os neo-nazistas.

E não adianta denunciar esses radicais como se fossem a imagem mesma da velha opressão denunciada. Pelo contrário, são o resultado óbvio da provocação feita pelos militantes ideológicos. Se há novos extremistas é porque aqueles que se dizem vítimas não tentaram a conciliação, mas fizeram com que sentimentos, que pareciam arrefecidos, aflorassem.