Categoria: Sociologia

Frustração justificada

Toda vez que alguém resolve vingar-se da comunidade na qual vive, como os assassinos na escola de Suzano, surgem seus defensores a justificar sua violência, jogando a culpa sobre a sociedade. O responsável deixa de ser o que carrega o rifle, mas o meio onde ele habita que, inevitavelmente, teria forjado sua personalidade.

Com a vingança justificada, diminuem a culpa de quem apertou o gatilho e lançam sobre a coletividade a responsabilidade pelas mortes. Os homicidas passam a ser meros desajustados, que não conseguiram encaixar-se em uma sociedade injusta e que, por isso, decidiram expressar sua frustração atirando nas pessoas.

Jogam sobre as costas, principalmente, do sistema capitalista, que estimula a competição, a culpabilidade pela geração dos fracassados que, mais cedo ou mais tarde, reclamarão sua revanche.

No entanto, a sociedade não pode ser responsabilizada pela frustração de alguns indivíduos, nem assumir a responsabilidade pelos crimes que eles cometem. Isso porque não é da sua natureza evitar a frustração de quem quer que seja. Ela existe, única e exclusivamente, para permitir aos seus membros o mínimo de segurança e liberdade para que eles possam buscar sua própria satisfação e felicidade.

Obviamente, a vida em uma sociedade capitalista (que é, por essência, não estratificada e oferece diversas possibilidades de ascensão social e reconhecimento) fomenta a competição. Isso acaba gerando a inevitável sensação de fracasso em alguns indivíduos. Porém, isso não significa que em outro modelo haveria menos frustração. O que os defensores da sociedade igualitária não contam é que, no mundo imaginado por eles, ela é quase universal. Onde todos são iguais, todos são frustrados igualmente – exceto, claro, aqueles poucos privilegiados que pertencem às classes dominantes, ligados ao partido do poder.

Além do que, a frustração é algo bastante comum. Os desajustados estarão sempre por aí. Sentir-se derrotado diante das exigências da vida social não possui nada de extraordinário. A partir do momento que é preciso esforço para conquistar algo – e eu não consigo imaginar um meio onde não seja assim que aconteça – a possibilidade de sentir-se malogrado estará sempre presente. Mesmo em um sistema de vida muito simples é assim.

Destarte, não é certo desculpar os assassinos. A frustração que eles sentem é tão comum que, se fôssemos isentá-los de culpa por causa dela, estaríamos simplesmente autorizando a selvageria. Se cada pessoa que se sentisse derrotada estivesse autorizada a causar mal às outras a violência seria absoluta.

É até compreensível a revolta de alguém que não conseguiu encaixar-se na comunidade onde vive. Até o desejo de vingança é imaginável. O que não se pode aceitar é que o fracasso lhe autorize a ceifar a vida de inocentes que nada têm a ver com sua inadequação e derrota. Por isso, quem tenta justificar, de alguma maneira, o terrorismo causado por essas personalidades arruinadas torna-se, cúmplice, pelo menos intelectual, de seus crimes.

Conscientização e intimidação

Nenhum ser humano normal acredita que a agressão, o roubo, a fraude e outros crimes são certos. Se os pratica, faz isso porque quer algo em relação ao qual as medidas punitivas (legais ou sociais) não são suficientes para detê-lo.

Quando um homem bate em uma mulher, por exemplo, sabe que está errado. Se faz isso, não é por falta de consciência, portanto. Ele apenas decide que as consequências do seu ato não são inibidoras do seu desejo de violência.

Por isso, não há nada mais inócuo do que as campanhas de conscientização que tentam convencer as pessoas a não cometerem crimes. Nunca ouvi falar de que, por causa delas, um bandido tenha deixado de praticar seus delitos; nem um violentador suprimido seus impulsos.

Antigamente, a pressão social podia exercer alguma influência, inibindo alguns homens de praticarem suas trangressões. No entanto, em nosso tempo, quando nada parece reprovável, existe apenas um fator de coerção possível: a execução da lei.

Somente quando o criminoso tem certeza da punição é que ele mede seus atos.

Logo, não sou contra as campanhas de conscientização. Porém, a única conscientização que eu acredito é naquela que torna o infrator ciente das consequências de seus atos. Em vez de falarem “não façam isso”, deveriam dizer “façam e serão devidamente punidos”.

Perseguição ao pensamento que escapa da ideologia

Um país intelectualmente civilizado e evoluído tem como principal compromisso, na área da cultura, preservar seus representantes mais ilustres. Independentemente de suas preferências políticas, da religião que profere, de seu comportamento e até, nos casos mais extremos, dos crimes que cometeu, o grande pensador é um patrimônio nacional, que deve ser ostentado com orgulho por quem ama a terra onde vive.

Mas o Brasil é um país onde seus ditos intelectuais, principalmente aqueles considerados os guardiões da cultura nacional, são gente que sofre daquilo que Ortega y Gasset chamava de politicismo integral – característica típica do homem-massa, de pessoas medíocres. Gente que vê política em tudo e que julga tudo pela política. Pior, que rebaixa toda manifestação de pensamento – mesmo a mais alta e sutil – ao nível do discurso político.

Onde a classe letrada tem a convicção política acima da inteligência, nenhum pensamento superior subsiste. Pior, todas ideias são medidas segundo a régua da ideologia, o que rebaixa tudo aos níveis rasteiros das disputas partidárias.

Não é que os intelectuais não devam falar de política – muito pelo contrário! Mas deveriam falar e pensar política a partir de uma perspectiva superior e mais profunda, com base no que está além dos fatos cotidianos. O problema é que aqui no Brasil eles pensam sempre a partir da própria ideologia política que possuem, tendo ela como o ponto de referência para a avaliação do que tem ou não tem valor. Com isso, não há mais lugar para as ideias livres, mas apenas para os discursos de acordo com o pensamento dominante.

Onde, em seu meio cultural, prevalece o pensamento ideológico, contra os maiores pensadores, se eles não falarem de acordo com a linha ideológica dominante, prevalecerá, primeiro, a tentativa de ignorá-los, depois, quando isso não for mais possível, vão se esforçar por contestá-los, então, ao perceberem que a contestação foi inútil, vão procurar desmerecê-los e, por fim, ao verem que nada disso adiantou, buscarão destruí-los moral e até fisicamente.

Há o fato também da ideologia tornar as pessoas, mesmo letradas, burras. Isso porque ela formata, de acordo com seus estreitos limites, a visão de mundo dessas pessoas. Daí, quando um estudioso pensa e fala de uma maneira que ultrapassa esses limites, ele, querendo ou não, expõe essa burrice.

Por isso, tenho convicção de que toda a perseguição promovida contra Olavo de Carvalho – e que já havia sido experimentada em níveis menores por outros pensadores, como, por exemplo, Paulo Francis – ocorre, não apenas porque ele fala contra a ideologia dominante, mas porque suas ideias colocam à vista de todos a miséria intelectual da classe letrada brasileira, que é maciçamente submetida a essa ideologia. Independentemente da genialidade do professor, só o fato dele pensar fora da caixinha ideológica já o torna um inimigo declarado dos militantes aculturados. Afinal, a discordância pode incomodar, mas a exposição da própria idiotice desperta, em quem se tem por inteligente, os instintos mais ferozes.

Discriminação dos paladinos

Toda exaltação do indivíduo, por alguma conquista sua, quando feita com indicação da raça ou gênero dele, sugere, subliminarmente, que pertencer àquela raça ou gênero significa, de alguma maneira, inferioridade ou, pelo menos, que a conquista não é esperada para alguém do seu tipo.

Se a pessoa diz que “fulano, negro, passou em primeiro lugar no concurso público” ou “sicrana, mulher, foi promovida à diretora da empresa”, está, ainda que inconscientemente, aplicando à frase um advérbio oculto, que modifica a expressão, assinalando que tal fato representa, de alguma forma, uma quebra de expectativa. Seria o mesmo que dizer “fulano, apesar de negro…” ou “sicrana, mesmo sendo mulher…”.

Pode até haver boa intenção em querer destacar a raça ou o gênero de alguém, tentando demonstrar que a conquista de certa pessoa se deve também à superação pelas dificuldades impostas pela discriminação. 

No entanto, a discriminação só é superada realmente quando as vítimas deixam de ser tratadas como tais. O que eu quero dizer é que enquanto negros, mulheres e outros grupos são tratados como exceção à regra e suas conquistas como um acontecimento anormal, então saber-se-á que a segregação continua.

Aliás, é nesse sentido que deve ser entendida a fala do ator americano, Morgan Freeman, que, em uma entrevista ao programa 60 Minutes, foi enfático ao dizer que a melhor maneira de combater qualquer tipo de racismo é, simplesmente, não falando dele.

Apesar de ser esta uma fala que vai de encontro a uma percepção inicial sobre o que seria o combate à discriminação, o que ele diz faz muito sentido. Não falar, não quer dizer ignorar eventuais atos discriminatórios, mas demonstrar que realmente as raças e os gêneros não são relevantes.

Obviamente, isso não quer dizer que deve-se fechar os olhos para os reais atos discriminatórios. Eles existem e devem ser combatidos. Porém, quando não são mais os indivíduos, vítimas de discriminações específicas, mas o grupo a ser protegido, todos os indivíduos pertencentes a este grupo estão, imediata e invariavelmente, declarados como inferiores, independentemente de seus méritos pessoais. Além disso, quando tudo é discriminação e todos são vítimas, nada mais é discriminação e ninguém mais é vítima.

Há, porém, de chegar o dia quando as pessoas serão lembradas por seus méritos e sua cor de pele esquecida. Serão louvadas por suas vitórias, sem que seu gênero seja tido por relevante.

A contundência do discurso do Escola sem Partido

Há quem entenda que a forma como os integrantes e simpatizantes do Escola sem Partido manifestam-se, falando com veemência contra a atuação de alguns professores, é inadequada. Eles acreditam que esse discurso incisivo prejudica a relação entre professor e aluno e pode provocar tensões inconvenientes na sala de aula. Assim, acusam os militantes do Escola sem Partido de agitadores, como se fossem um mal ao ambiente escolar.

Ocorre que nenhuma mensagem pode ser analisada como uma forma fixa, invariável, alheia às circunstâncias. Pelo contrário, suas ênfases e modulações precisam ser julgadas conforme sua adaptação às necessidades, ao público e à gravidade do assunto. E, ao levar isso em conta, constata-se que o discurso do Escola sem Partido precisa ser forte, contundente e até intimidador.

Isso é justificado pelo fato de que tem havido diversos indícios e muitas denúncias de professores que têm usado da sala de aula para impor suas convicções políticas sobre seus alunos. Agem como verdadeiros militantes e, sem escrúpulos, usam da audiência cativa para formatá-la a seu bel-prazer. Isso é muito sério e reponder a esse problema com tibieza não condiz com a gravidade do assunto.

É preciso levar em conta que, em termos de ciência dos discursos, a posição do professor é totalmente favorável a ele. Basta ver que o maior desafio de alguém que se dirige a uma plateia é estabelecer sua própria autoridade diante dela. Até porque um orador sem autoridade é como um pistoleiro com balas de festim, que faz barulho, mas não atinge ninguém. A verdade é que o público não dá ouvidos a quem ele não confia e é por essa razão que Aristóteles dizia que o principal elemento da persuasão é o ‘etos’, que caracteriza-se principalmente pela credibilidade transmitida pelo orador.

Pode-se ver, portanto, que o professor é um agraciado. Por causa da natureza de sua função e pela característica de sua audiência, ele já possui, de antemão, essa autoridade tão perseguida pelos oradores e exerce, sem nenhum esforço, grande influência sobre seus ouvintes. Não há figura com maior credibilidade, principalmente tratando-se de um público formado por crianças e adolescentes. Para estes, o mestre é um ser quase transcendente, imune a erros e portador de uma sabedoria sublime.

Se o professor, então, abusa dessa autoridade – que sequer é sua, pois não foi conquistada por ele, mas pertence naturalmente à função que exerce – incorre em um pecado gravíssimo. Um pedagogo que tira proveito de alunos incapazes de formar uma opinião própria para impor sobre eles sua ideologia e visão peculiar de mundo pode ser considerado, sem nenhum exagero, um violentador de consciências.

E, diante disso, considerando a modelagem dos discursos de acordo com as circunstâncias, aqueles que denunciam algo tão sério não podem fazê-lo de maneira tíbia, vacilante. Exigir que ajam assim seria como esperar que uma testemunha de um estupro, em vez de tirar o agressor a ponta-pés de cima da vítima, redija uma mera moção de censura.

Quem não concorda com esses argumentos e, com base apenas na observação da forma do discurso do Escola sem Partido, considera-o um grupo radical, com linguagem violenta e propostas agitadoras, sem levar em conta o problema apontado por ele, não está entendendo – ou finge não entender – a seriedade do assunto.

Fábricas de militantes

O ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – é o sistema de manipulação de mentes mais abjeto e canalha que existe.

Com a desculpa de ser um avaliador e selecionador dos alunos para o ingresso nas universidades, na verdade ele serve como um filtro ideológico para elas.

Pior ainda, o ENEM se transformou em um verdadeiro modelador das mentes dos alunos do ensino médio.

Isso porque os conteúdos a serem oferecidos nas escolas de ensino médio precisam preparar esses alunos para que eles obtenham sucesso na prova do ENEM.

Se, portanto, essa prova possui um viés ideológico muito definido (como é o caso do ENEM), as escolas precisam, desde cedo, formatar a mentalidade de seus alunos para que eles pensem de acordo com esse viés ideológico.

Sendo assim, essas escolas, ao ajustarem seus currículos às exigências ideológicas das provas do ENEM, acabam, elas mesmas, transformando-se em verdadeiras fábricas de pequenos militantes ideológicos.

Cumpre-se, assim, o verdadeiro objetivo da existência desse exame.

A morte da ideologia

As ideologias estão morrendo.

Porque elas vivem da mentira, e não se sustentam em um mundo onde há liberdade de opinião e onde as ideias correm livremente.

Isso porque toda ideologia, para sobreviver, precisa negar a realidade e controlar as as narrativas, de maneira que suas fantasias sejam suportadas. 

Quando, porém, as ideias e as opiniões vivem soltas, como tem acontecido em nossa era digital, o controle das narrativas se torna impossível

Uma mentira é desmentida quase que imediatamente; 

Ninguém mais é o dono da versão oficial.

É por isso que as ideologias estão morrendo.

Elas sempre viveram de manipular as pessoas, contando suas mentiras e vendendo suas ilusões.

Agora, isso não funciona mais.

Anti-jornalismo e a traição dos jornalistas

O “furo de reportagem” é o ápice da atividade jornalística. Apresentar, para os leitores, aquilo que ninguém mais viu e ele foi o primeiro a desvendar é o cumprimento máximo da vocação do jornalista. No entanto, pelo menos na grande imprensa brasileira, esse anseio profissional extinguiu-se. Por aqui, o jornalismo tornou-se mero autenticador das forças constituídas. O que se pratica na imprensa tradicional brasileira é, de fato, o anti-jornalismo.

A característica marcante do bom jornalista é a desconfiança. O jornalista que preza por sua profissão está sempre em busca de uma realidade escondida por detrás das aparências dos fatos como eles se apresentam em um primeiro momento. É o sonho de todo jornalista descobrir e revelar algo que ninguém mais sabe. O jornalista de estirpe sempre quer ser o primeiro a desnudar as mentiras contadas pelas versões oficiais.

Em razão disso, está no sangue do bom jornalista o ceticismo inveterado. Ele não se contenta com as primeiras aparências de um fato e, menos ainda, com as primeiras versões com as quais esses fatos se apresentam. É da prática do bom jornalismo, diante do menor indício de que a realidade não é como contam, desbastar esse matagal de aparências e versões para encontrar o que está escondido por detrás delas.

Quando o jornalista, porém, faz o contrário disso e, ao invés de desconfiar das versões apresentadas e tentar descobrir o que existe escondido além delas, apressa-se para corroborá-las, sua prática constitui-se em traição do jornalismo. O que ele faz é o anti-jornalismo.

E foi exatamente isso que nós testemunhamos no primeiro turno das eleições de 2018. Logo após o encerramento da apuração dos votos, tivemos de ouvir uma porção de jornalistas e seus respectivos veículos de comunicação ignorando – quando não contestando – as centenas de indícios de que estavam ocorrendo problemas nas urnas, sempre contra o mesmo candidato, e corroborando a versão do governo de que tudo corria na mais perfeita normalidade.

Traindo aquilo que caracteriza a essência do jornalismo, esses profissionais, em nenhum momento, colocaram em dúvida os comunicados oficiais. Pelo contrário, cerrando as narinas para qualquer faro jornalístico, mesmo diante de instigantes fatos que, normalmente, faria com que qualquer repórter, com o mínimo de ambição profissional, corresse para tentar descobrir o que realmente estava acontecendo, os jornalistas da grande mídia apressaram-se para servir de fiadores dos poderes constituídos, esforçando-se por abafar qualquer tentativa de colocar em dúvida a lisura das eleições.

Que jornalista é esse que não se questiona, que não investiga, que não duvida daquilo que o governo diz? Que jornalismo é esse que se submete às forças políticas existentes e age como seu porta-voz oficial?

Isso mostra que esses profissionais, que deveriam ser os responsáveis por informar-nos da verdade e de quem deveríamos esperar o esforço por revelar-nos realidades que, muitas vezes, não estão evidenciadas em um primeiro momento, agem no sentido contrário do que seriam suas vocações e, usando suas credenciais como escudo de proteção a favor governo contra as reclamações do povo, traem-nos.

A maldição do bem comum

O bem comum é uma maldição e, invariavelmente, uma desculpa para as maiores atrocidades. Caifás, sacerdote que autorizou a morte de Cristo, exclamou: “convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação”. Pelo bem de todos, mataram o próprio Deus. A nação, mesmo assim, pereceu. Mas a afirmação do sumo sacerdote só foi aceita porque fingia preservar a coletividade, mostrando-se a favor do bem comum. 

O bem comum sempre fundamentou as decisões mais terríveis e assassinas. Milhões foram mortos e colocados na miséria por causa dele. Governos justificaram até mesmo genocídios, dizendo que faziam essas coisas porque era o melhor para todo mundo ─ menos para as vítimas, obviamente.

O lado mais cruel das ações malignas baseadas no bem comum é que ninguém é condenado por elas, ninguém é responsabilizado pelo que faz. O bem comum se tornou a desculpa perfeita para as maiores maldades, pois foi colocado como um objetivo a ser buscado acima de tudo, tornando lícito qualquer coisa que se faça em seu favor.

Mesmo quando as nações foram construídas com a retórica da proteção dos direitos do homem e o pensamento liberal nascia como o que havia de mais civilizado, a punição àqueles que se tornassem uma ameaça aos interesses da coletividade manteve-se bem ativa. 

O período iluminista, que com o seu discurso racionalista e individualista prometia elevar o homem a uma condição especial, deu à luz, paradoxalmente, o princípio romântico da vontade geral. Seu fruto mais visível acabou sendo uma revolução, que converteu os direitos do homem em uma tirania mal disfarçada, derramando sangue e cortando pescoços em favor do maldito bem comum.

Surgiram, então, as ideologias socialistas, coletivistas de nascença. Elas se apresentaram como solução para a sociedade e foram muito claras ao propor que faziam isso pensando na construção de um mundo melhor, para o bem da coletividade. Sob bandeira tão magnânima, quando tomaram o poder, não tiveram nenhum problema em sufocar os indivíduos e escravizar suas consciências. Fizeram, então, dos homens um braço do Estado e servos de seus líderes.

Mesmo hoje, no tempo que se gaba por ter promovido as maiores liberdades, as grandes forças políticas e financeiras globais manifestam-se, sem nenhum pudor, a favor da reconstrução de um novo sistema, propondo reiniciá-lo de alguma maneira, substituindo nossas atuais formas de vida por outras que, segundo eles, seriam melhores para todos. Muitos aceitam tamanho desvario simplesmente porque esses sonhos distópicos estão todos fundamentados na desculpa do bem comum. 

O mundo ocidental mergulhou na sanha coletivista. Para tanto, precisou negar sua origem cristã, afinal, foi o cristianismo que, superando a perspectiva que tomava os homens por massas, colocou cada um deles, individualmente, diante de Deus. O cristianismo ensinou que são os homens, não as nações, julgados no tribunal divino; que são os pecados dos indivíduos levados em conta; que chegou ao extremo de afirmar que uma alma vale mais que o mundo inteiro.

Foi essa visão cristã de valorização humana que permitiu a compreensão de que a verdade só pode ser encontrada pelo indivíduo, após um esforço laborioso e sincero de sua parte. Tornou-se compreensível que apenas o homem, em sua solidão interior, é capaz, após calar as vozes vulgares que lhe chegam de fora, de compreender a verdade que está além da confusão geral.

Por outro lado, quando se busca o bem comum, a verdade não é achada, porque seu objetivo é defender interesses ─ ainda que de um grupo de pessoas. Esse é o motivo porque quase toda a decisão baseada nele está condenada ao erro.

Não é por acaso que o bem comum sempre foi a maior arma dos tiranos. Usando-o como desculpa, não precisavam estar certos. Alegando-o como objetivo, podiam impor sobre os homens sua vontade pessoal, hipnotizando as consciências, fazendo-as crer que tudo é para o seu melhor e que todo ato, mesmo o mais desprezível, é justificável.

Hoje, quando escuto alguém dizendo que está agindo visando os interesses da coletividade, sei que é bem provável que algo de ruim aconteça. Afinal, quase nada de bom e verdadeiro pode surgir quando se alega que se faz alguma coisa pelo bem comum.

Os filhos do ambientalismo

Desconfia de quem se mostra demais solícito com as crianças, disposto a ensiná-las nos caminhos certos da vida moderna e a discipliná-las em um pensamento coerente com o que há de mais politicamente correto. Não deixes teus filhos à mercê dos educadores, das políticas educacionais e dos currículos escolares; eles não existem para tornar tuas crianças boas, mas moldadas conforme à imagem e semelhança dos poderes deste mundo.

Quando vejo, como vi em uma reportagem na tv, uma ecologista dizendo que concentrava seu trabalho de divulgação nas crianças, por serem elas um grande instrumento propagador das idéias ambientalistas, onde, talvez, a maioria das pessoas tenham visto amor, bondade e as melhores intenções, para mim, era como se o próprio Satanás estivesse, esfregando as mãos, avisando que eles, os pequenos, lhes pertencia.

Desde Rousseau, com seu Emílio, é possível perceber tal obsessão: a moldagem das mentes infantes segundo a visão de mundo de seus educadores. Não são os pais, em seu ambiente familiar, transmitindo os valores herdados e as características próprias da família os que devem assumir a educação, mas, sim, os representantes dos poderes maiores, como o Estado, o Globo e, quem sabe, até os seres dos ares.

Com isso, esvaem-se os vínculos, eliminam-se os elos. Todos são forjados segundo a Grande Mente global, e apenas se vêem ligados a esta fraternidade mundial, que existe somente na cabeça de ideólogos de uma Nova Era onde o indivíduo não é ninguém em si mesmo, mas unicamente parte de um poder superior terreno.

Não abandones teus filhos! Não largue-os na escola, ficando tu aliviado por poder tê-los controlados, por outros, durante algumas horas. Mais ainda, não abandones teus filhos às ideias propagadas em sala de aula. Pergunta, indaga, investiga. Deseja saber o que eles estão aprendendo e, no que puderes, destrói as armadilhas postas em suas mentes. Tu és o educador. Tu és o transmissor de valores. Tu sabes o que é bom para eles. Não permitas que eles transformem teus filhos em teus acusadores e delatores.

Quando ouço uma criança me repreender por alguma noção segundo a visão politicamente correta moderna, sinto-me no romance de Orwell e percebo que o escritor não era apenas um visionário, mas um profeta. Filhos denunciando pais, crianças informantes delatando amigos e familiares, tudo isso parecia, até bem pouco, apenas uma hipérbole sombria de uma mundo opressivo. Mas não! Isso já está acontecendo e teus filhos estão sendo doutrinados para fazerem parte desse grande exército.

Não sejas tu, também, um acólito das idiotices modernas. Informa-te sobre a verdade, rastreia a informação e descobre quem são aqueles que promovem a agenda que, com a desculpa de proteger a terra, pretende destruir seu maior tesouro: o homem em sua individualidade.